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05.05.2015 17:06

Dicas do Professor Germano - Rondon
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Marechal Rondon: 150 anos

 

Há uma virtude que se harmoniza, por inteiro, com o estilo de vida do Marechal Rondon: longanimidade. Ainda que esta palavra circule tão raramente em nosso dia a dia, enfeixa um conceito batido e rebatido. É indicativa daquele que, com firmeza de ânimo, sabe suportar as contrariedades que o viver lhe reserva, fazendo-o em bem dos outros. Sinônimo de obstinação, coragem.

 

Neste 5 de maio de 2015, comemoramos o sesquicentenário – centenário e meio – de Rondon: veio ao mundo em 5 de maio de 1865.

 

Por tudo que significou não apenas para Mato Grosso, mas para o Brasil e para o mundo, merece que lhe entoemos esta página enaltecedora. A expressão “relevantes serviços prestados”, se aplicada a ele, haveria de dizer muito pouco, trazida à cena a grandeza de seus feitos. Notadamente aqueles que versam sobre comunicação e pacificação.

 

Quem transita pela biografia deste insigne mato-grossense, nascido no entorno da Grande Cuiabá, mais precisamente numa sesmaria conhecida por Campo Mimoso – hoje integrada a Santo Antônio de Leverger –, fica magnetizado por seus passos.

 

A linhagem humilde talvez explique sua sede de pacificar os índios. Seus bisavós maternos – bororo e terena – e sua bisavó paterna – esta do grupo guará – assinam-lhe a ascendência indígena.

 

Em seu modo de sentir, usurpamos do índio – os verdadeiros donos da terra – o que de mais precioso tinham, contraindo, em relação a eles, uma dívida que jamais seria paga. Daí sua luta incansável em favor da causa indígena.

 

Intriga-nos esta curiosidade: como um brasileirinho de origem acanhada, proveniente de um lugarejo de pouca expressão no cenário nacional, escondido no meio deste Estado-Nação, chegou à envergadura de Rondon, conhecido mundo afora?

 

Que saibamos, isso se deve ao fato de Rondon estar imbuído de uma crença inabalável em seus sonhos: embora, num primeiro relance, parecessem irrealizáveis, aos olhos do futuro sertanista seriam todos materializados. A verdade é que o desbravador nasceu para brilhar. Bem diz nosso povo, em conhecido provérbio: Quem é bom já nasce feito!

 

De família pobre, pobre fora também dos carinhos paternos. O brilho dos olhos do pai, nem chegou a contemplar, abatido por varíola em 1864. Dois anos tinha quando perdeu igualmente a mãe. Jeito foi se refugiar em seus avós, afago para sua alma entristecida.

 

Com sete anos – faminto das primeiras letras –, busca Cuiabá. Aos dezesseis, seu destino o leva ao Rio de Janeiro. Na Escola Militar, forma-se em engenharia, especializando-se no setor de linhas telegráficas. Tinha 24 anos.

 

Se há um traço de sua existência que o distingue sobremaneira, é a pacificação dos índios. Principia com os bororos em 1901, concluindo, já no alto de seus 81 anos, com os xavantes, desarmando-lhes o espírito belicoso. Nesse entremeio, pacifica os nambiquaras, os botocudos, os caingangues, os xoclengues, os umutinas – da família bororo –, os parintintins e os urubus-caapores.

 

Na expedição que o ex-presidente Theodore Roosevelt empreendeu ao Amazonas, coube a Rondon ciceroneá-lo. Adversidades aos montes: fome, sede, doenças tropicais, emboscadas de índios... Intuito era mapear o rio da Dúvida, assim chamado porque, conquanto soubessem de seu nascedouro, desconheciam-lhe o curso e onde desaguava.

 

Sua missão apenas principiara. Muita água haveria ainda de correr por aquele rio enigmático, agora rebatizado: rio Roosevelt. Extensão aproximada de 1.500 km. Nessa aventura, o pacificador foi atingido por uma flecha envenenada. O milagre aconteceu: salvo pela bandoleira, uma correia de couro que usava a tiracolo para carregar a espingarda.

 

A cidade de Rondonópolis, a 210 km de Cuiabá, deve-lhe o nome: uma homenagem ao Bandeirante do Século XX. O rei da Bélgica lhe condecora com o título de Comendador, consignada esta inscrição: Pelo bem que tem feito à humanidade.

 

Com 73 anos, do baú de sua experiência ainda tira tempo e força para promover a paz entre a Colômbia e o Peru, que disputavam o porto de Letícia. O conflito lhe custou quatro anos de empenho, à frente da delegação.

 

O Meridiano 52 – denominado Meridiano Rondon – traduz uma referência geográfica para a história das comunicações no Brasil.

 

Corria o fevereiro de 1956. O Território de Guaporé teve seu nome alterado para Território Federal de Rondônia, mais tarde elevado a Estado. Seu prestígio ficaria inscrito, escancaradamente, no próprio mapa do Brasil: Rondônia.

 

Já com 90 anos, alquebrado ao peso do cansaço, o Congresso Nacional lhe concede as honras de Marechal do Exército Brasileiro.

 

No ano que antecede sua morte, seu nome é indicado, por mais de 15 países, ao honroso Prêmio Nobel da Paz.

 

Foi em 19 de janeiro. O ano de 1958 apenas despontava. O tempo do desbravador se extingue, assinalando o desfecho de uma vida intensa e altruísta entre as que mais o foram. Por força de suas realizações, insculpiu seu nome entre os heróis pátrios. Sua figura, de igual modo, está gravada na estima imorredoura de seu povo.

 

Patrono da Arma das Comunicações, pouco mais de cinco anos após sua partida, o dia de seu natalício – 5 de maio – passa a ser comemorado como Dia Nacional das Comunicações.

 

Professor Germano Aleixo Filho,
Assessor da Presidência do TJMT.