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16.06.2015 18:50

Dicas do Professor Germano- O uso do infinitivo II
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O uso do infinitivo (II)
 

Já dissemos que a aplicação do infinitivo não é sopa. Embora assim, é preciso continuemos a enfrentar o leão. Botemos também nossas garras de fora, por que não? Foco desta coluna é o infinitivo pronominal, antecedido de preposição. Vamos por partes. Nada de estresse.

De início, recuperemos a essência do que já foi assentado. De um grande dicionarista, esta definição de salário-educação: Contribuição social..., permitindo às três instâncias de governo investirem em programas e ações que qualifiquem profissionais da educação e estimulem alunos a permanecer em sala de aula.

O primeiro infinitivo – investirem –, porque depende de um gerúndio – permitindo –, não deve ser flexionado. Quem disse que os simples mortais, só eles, incorrem em certas ciladas? Esta língua portuguesa... Convido-os a reler a coluna do infinitivo (I).

A oração acima desfila outro infinitivo, agora não flexionado: estimulem alunos a permanecer. Emprego sem nódoas: corretíssimo. Aliás, já havíamos assinalado esta regra de ouro: quando o sujeito do infinitivo preposicionado é o mesmo sujeito ou objeto da oração anterior, é desnecessário – diríamos até mais estiloso – usá-lo com flexão. É isso!

Um amigo, num “buteco” do bairro do Porto – escreva sempre boteco! –, curioso das coisas que dizem respeito ao português, me pergunta: e se esse verbo no infinitivo preposicionado vier acompanhado de pronome? Gostei da pergunta: propôs-me o tema de hoje. Vamos responder sem um tico de pressa.

O Novo dicionário Aurélio, no verbete referendo, abre esta definição: Direito que têm os cidadãos de se pronunciar diretamente a respeito de questões de interesse geral. Viu só? O Aurélio usou o infinitivo sem flexão, mesmo sendo pronominal. Duvidou? Vá lá e confirme.

Falemos baixinho, para nenhum gramático ferrenho nos ouvir: é de louvar – e não “de se louvar”, sem esse intruso e descabido se – o uso desse infinitivo no singular. Palmas para o Aurélio! Às vezes, batemos o pé e usamos o plural – de se pronunciarem – talvez apenas para tirar um peso da consciência. Fica-nos a impressão de que o singular, neste caso, seria amaldiçoado, passando nosso texto a ser motivo de chacota. Nada disso!

Não nego: para alguns gramáticos, recorrer ao singular quando se trata de infinitivo pronominal, precedido de preposição, é o fim do mundo. Quem comete essa infâmia merece, aos olhos deles, o fogo do inferno. Esquecem-se eles disto: há uma tendência que aos poucos se desenha. Muita calma nesta hora!

 

No referido caso, o Prof. Saconni defende – com unhas e dentes – a flexão do infinitivo. Exemplifica: Promovemos a reunião para nos informarmos de tudo. Devo confessar-lhes: ainda “parece” ocorrer, com frequência maior, a forma flexionada, como o gramático assegura.

 

No entanto, o singular – para nos informar – tem também seu lugar ao sol. Incriminar esta construção, jamais. Sem nenhum naco de vergonha, poderia transitar, bela e formosa, por qualquer Academia de Letras. Tapete vermelho também para ela: Promovemos a reunião para nos informar de tudo.

Nosso negócio não é briga. Apenas queremos “constatar”... Passeio – e muito! – pelos dicionários e vou registrando as ocorrências que merecem atenção. No Grande dicionário Sacconi, selecionei vinte e sete “pedaços de frase” com o infinitivo pronominal. Já frisamos: o dicionarista diz ser obrigatória a flexão.

Desse grupo, o autor se socorre do infinitivo sem flexão em nove delas, o que corresponde a um terço da coleta. Significa isso que a obrigatoriedade já não é tão católica assim. Há controvérsias...

No verbete Paraguaçu, temos: Ajudou muito os portugueses a se estabelecer na Bahia. Significativo, não?! Já na palavra escorpião, pontua o gramático: (Eles) foram os primeiros artrópodes a se adaptar à vida na terra. Mais um, extraído do verbete Grécia: Oshunos obrigaram os gregos a refugiar-se nas costas e nas ilhas. O povo tem razão: há controvérsias.

Fique combinado: nestes casos, pinçados do Dicionário Sacconi, cai bem, igualmente, o infinitivo flexionado. Quanto a mim, ao menos aqui, os três exemplos se afeiçoam melhor ao singular. Se nos cabe recomendar alguma coisa, não hesitemos: é preciso fazer uso – sobretudo em se tratando do infinitivo – de bom-senso. Consultemos sempre nosso ouvido: o que soa melhor?

Voltemos ao aceso da questão, pondo sob nosso crivo esta passagem: Truculentos, os policiais do Paraná forçaram os professores a se retirar da praça. No caso, recorreu-se ao infinitivo não flexionado. O redator se valeu do bom-senso. Como diria uma amiga minha: usar aí o plural – a se retirarem – é mais feio que o cão chupando limão na chuva. Cruzes!

Uma observação. O Prof. Cegalla, em seu sempre útil Dicionário de dificuldades da língua portuguesa, pondera que se flexiona o infinitivo reflexivo – aquele em que o sujeito pratica e recebe a ação verbal. Cita dois exemplos: Estavam ansiosos de se conhecerem. Marido e mulher estariam dispostos a se reconciliarem... Em ambos, subentende-se a expressão um com o outro. Todo crédito ao Prof. Cegalla.

Fica-nos uma pergunta: neste caso específico, como o Judiciário procede? De longa data, sabemos que ele procura andar de braços dados com a norma culta. Feri-la é, portanto, um pecado. Uma vez que as duas formas – infinitivo pronominal flexionado ou não – correm paralelas, em seus documentos o Judiciário já ensaia os primeiros passos rumo à construção não flexionada. Seja exemplo este despacho: Determino que se oficie aos Magistrados-Diretores para se manifestar a respeito do pedido em análise. Digno de aplausos.

O gramático Napoleão Mendes continua, pelo visto, tendo lá suas razões: Devemos limitar a flexão do infinitivo aos casos de real necessidade de identificação de seu sujeito.

Consultado nosso ouvido, peçamos a bênção à mãe clareza e adicionemos ao prato do infinitivo uma pitada de elegância. Feito isso, o melhor é flexioná-lo pouco, ministrando doses homeopáticas. E pimba!

Basta!
Prof. Germano Aleixo Filho,
Assessor da Presidência do TJMT.