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Poder Judiciário de Mato Grosso

 
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25.05.2016 11:18

Oficina ensina pais e filhos lidar com o divórcio
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Quando pequenos somos ensinados sobre línguas, matemática ou mesmo como comer corretamente. Mas, ninguém nos ensina a lidar com situações de conflito que porventura possam surgir. O divórcio é uma delas. Segundo dados do último Censo, em 10 anos dobrou o número de divorciados no país. Com o intuito de diminuir os impactos causados pelo processo de divórcio e instruir pais e filhos a lidar melhor com a circunstância, o Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) realizou nesta segunda-feira (23/05) a Segunda Oficina de Pais e Filhos (ou Oficina de Parentalidade), da Comarca de Cuiabá.
 
A servidora pública, Janaína Pompeo de Cerqueira, de 29 anos, está separada há sete meses e enfrenta um processo de divórcio atribulado. Entre as brigas e desavenças enfrentadas pelo casal está a pequena Maisa, três anos, que embora seja pequena, sofre com a distância entre os pais. Convidados pela juíza Eulice Jaqueline da Costa Silva Cherulli, da 3ª Vara Especializada de Família e Sucessões, a família participou da oficina.
 
“Eu já tinha ouvido falar da oficina, mas não sabia bem o que era até a Dra. Jaqueline nos convidar. Queria ter participado antes, talvez tivesse evitado algum sofrimento. Também acho que a oficina deveria acontecer com mais frequência e não apenas uma vez, pois alguns pais precisam relembrar que os desentendimentos do casal não podem ser descontados nos filhos. Afinal, quem mais sofre é a criança”, disse.
 
Ela acrescentou ainda que viu algumas pessoas se perguntando o que vieram fazer na oficina e mentalmente analisou que só pelo fato de fazer a pergunta, as pessoas já precisavam estar ali. “Não podemos julgar, porque é inconsciente. Ninguém quer o mal do próprio filho. Porém, a maioria não consegue enxergar o que faz. Pra mim é como um vício. Acaba-se usando o filho pra atingir um ao outro”, afirmou.
 
Janaína contou que se emocionou muito durante a oficina, não apenas pelo o que está passando com a filha, mas por relembrar o que vivenciou quando tinha 6 anos. “Já passei por essa situação na minha vida de duas formas diferentes. No meu primeiro divórcio, com meu filho de 11 anos, e antes disso comigo mesma, no divórcio dos meus pais. Então, entendo bem como é, já estive no papel da alienada. Na época foi muito difícil pra mim, porque meus pais fizeram tudo o que não se podia fazer na frente dos filhos. E, por isso, hoje quero fazer diferente”, enfatizou.
 
Apesar das constantes trocas de acusações, ela espera melhorar a relação com ex-marido depois da oficina. “Achei maravilhosa essa iniciativa da Justiça em fazer isso. Pois, quando eu chamo a atenção dele para os erros que ele está cometendo, por eu estar envolvida na história, não ganho confiança. Mas, quando outra pessoa fala, é diferente. Tento poupar minha filha disso tudo, mas nem sempre tenho esse retorno de lá. Ele me manda mensagens com minha filha falando que não me ama, quando está com ela. Aí ela me abraça à noite e me pergunta se eu amo ela mesmo. Fico muito triste! De onde mais ela poderia estar tirando isso?”, revelou.
 
Para o pai de Maisa, o Policial Militar Munir Curvo, 33 anos, a oficina foi muito bem-vinda. “Gostei muito de conhecer outras pessoas separadas, porque a gente acaba aprendendo um pouco mais sobre a vida e até tentando ter uma conversa melhor com a ex-esposa. Até porque no começo sempre há conflitos, mas isso é normal. Antes da oficina, eu achava que só acontecia comigo e agora percebo que tem muitas pessoas passando por esse momento e que posso levar a situação de uma maneira mais tranquila”, refletiu.
 
Ele ponderou ainda que, acima de tudo, o que importante é a felicidade da filha do casal. “A vida não vem com manual de instruções e por vezes trocamos os pés pelas mãos. Por isso, é muito bacana poder conversar com outras pessoas para aprendermos como agir. A criança tem que estar com os dois. Consegui identificar alguns casos que foram mostrados na oficina que já se passaram conosco. Espero que o judiciário continue fazendo isso, pois além de tudo é uma forma de auxiliar o juiz na decisão sobre guarda e pensões”, argumentou.
 
Segundo a Coordenadora da Oficina e mediadora do Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos (Nupemec), Silvia Melhorança, o objetivo da oficina não é fomentar a reconciliação entre os casais, mas tornar a convivência mais harmoniosa. “Nosso objetivo é mostrar para os pais como as crianças se sentem com o divórcio e como elas são afetadas. Às vezes um comportamento dos pais que pode parecer ingênuo, como, por exemplo, mandar o recado que a pensão está atrasada, pode magoar o filho”, esclareceu.
 
Ela explica ainda que a Oficina de Pais e Filhos é destinada aos pais que estão em processo de separação, com a finalidade de mostrar que a ruptura da união não deve interferir na vida dos filhos, uma vez que o papel de pais vai continuar para sempre. A reunião é realizada com o auxílio de psicólogos e assistentes sociais, que dividem o público em grupos de pais, filhos crianças e filhos adolescentes. Com as crianças, o assunto é tratado de forma lúdica, já com os adolescentes e adultos é abordado usando vídeos, músicas, palestras e outros recursos audiovisuais.
 
Ao todo, 24 casais participaram da oficina. Todos eles foram selecionados pelos juízes das cinco varas de família e sucessões do Fórum de Cuiabá. Além dos 71 participantes (48 pais e 24 filhos), os magistrados das varas de família também fizeram questão de participar da oficina para conhecer de perto o conteúdo da qualificação.
 
Programação - A primeira experiência com a Oficina de Parentalidade foi realizada em fevereiro de 2016 e devido ao sucesso já foi elaborada uma programação de oficinais mensais até o mês de dezembro. A próxima edição foi agendada para o dia 29 de julho.
 
Saiba mais:
 
Oficina resgata harmonia entre casais divorciados

Mariana Vianna/ Fotos: Tony Ribeiro (F5)
Coordenadoria de Comunicação do TJMT
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