11.04.2017 14:57
Dicas do Professor Germano - Ensino a distância ou à distância?Ensino à distância ou a distância?
Perguntam-me se devo escrever ensino à distância ou a distância? Na imprensa, seu emprego anda pendulando: ora se veste de um jeito, ora de outro. E o leigo – sem entender – fica a ver navios. Enfim, para que lado deve ele pender?
A verdade é que, no andar do tempo, os professores – entre eles me incluo – repassavam um conteúdo pra lá de sacramentado a esse respeito: não se usa o sinal da crase na expressão a distância, a menos que se trate de distância determinada. Era tiro e queda.
Vamos lá: Mantenha-se a distância. / Mesmo a distância, ouvi o barulho. Nesses dois casos, sem nenhuma especificação. O proceder é outro no caso de distância precisa, com artigo definido. Aqui o acento é obrigatório: Mantenham-se à distância de 5 m. / Ficou à distância de 10 km. Mas: O cortejo passou a pouca distância de nós.
O tema em apreço vem sendo questionado. Em Português para profissionais, o Prof. Kaspary registra que é significativo o número de escritores em cujos textos o a da locução a distância, sem nenhum qualificativo, vem assinalado com o sinal da crase. Falou e disse.
Passeemos um pouco pelos dicionários para saber a quantas anda a incerteza. No verbete teleducação, Aurélio documenta educação à distância. Já no item educação, envereda por outra trilha: educação a distância. Foi mero descuido do autor? Qual nada! Caso pensado, isso é que foi. Para ele, tanto faz como tanto fez.
Houaiss também abraça as duas saídas. Já Sacconi, que adota a perspectiva agasalhada pela tradição, não acentua o a quando se cuida de distância: Quero ver essa gente pelas costas e a distância. Em tom de galhofa, arremata: Apesar disso, há muita gente por aí promovendo Educação à distância e até Namoro à distância.
Uma posição dogmática – ao estilo da assumida por Sacconi – deve ser pisoteada. Está com os dias contados. No texto anterior, pontuamos ser majoritária a opinião dos que usam o acento grave nas expressões femininas em que o a não passa de pura preposição.
A documentação oriunda do MEC estampa para quem quiser ver: curso a distância, ensino a distância, educação a distância. E olha que já faz é tempo. Não ignoremos, contudo, que a nova tendência conspira a favor de ensino à distância, educação à distância.
Ressalve-se que o Grande manual de ortografia globo, do Prof. Celso Luft, indica a dupla possibilidade de grafia. Já o Prof. Cláudio Moreno – que foi aluno de Luft – recomenda o acento. Sinal claro de que a “coisa” está mudando. Fazendo-o, diz ele, estará aderindo ao sentimento da grande maioria...
Na mesma trilha, segue a Profa. Maria Tereza Piacentini. Afirma que não está errado o MEC quanto ao uso de ensino a distância, mas prefere recorrer ao acento. Anota que sua ausência pode deixar o texto ambíguo.
Um registro: os dicionários citados datam de 2009. Os autores mais atuais não escondem sua predileção pela forma acentuada: à distância. Mas esta bandeira já vinha sendo hasteada, desde 1982, por Adriano da Gama Kury, um mestre respeitado.
Em Ortografia, pontuação, crase, ele recheia o tema com citações de autores seletos. Pincemos uma de Rui Barbosa: Mais fácil é sempre dizer não à distância que rosto a rosto. Curioso: a obra foi financiada pelo próprio MEC. Como é que se dorme com um barulho desses?
O Prof. Evanildo Bechara – o cérebro filológico do Acordo Ortográfico – lançou uma obra que procura dissipar incertezas do dia a dia. Acabou de sair do forno nesse 2016. É o Novo dicionário de dúvidas da língua portuguesa.
Entende ele – um nome de peso, convenhamos – que se deve empregar o acento grave por motivo de clareza: à força, à bala, à faca, à fome... Leciona que a locução à distância deverá, a rigor, seguir esta norma: Ensino à distância.
Então, qual caminho devemos eleger: a posição do Ministério da Educação – ensino a distância – ou aquela que tende a ser predominante – ensino à distância? Fica o conselho do povo da roça: quem quer pegar galinha não diz xô. Sim, toda cautela é pouca.
Passamos por um período em que convivem – sem muita briga – as duas formas. Em favor de uma ou de outra, digladiam pesos-pesados do mais alto nível.
Longe de nós condenar a opção do MEC. Se bem assim, como não somos nada bobos, preferível é que nos bandeemos para o lado da clareza: ensino à distância. Afinal, não há madrinha mais poderosa. Por que, então, empacotar nosso texto com dúvidas? Nem a pau!
Basta!
Cuiabá-MT, 12-4-2017.
Prof. Germano Aleixo Filho,
Assessor da Presidência do TJMT.