Enquete
Fechar
Enquetes anteriores

Poder Judiciário de Mato Grosso

 
Notícias

16.03.2020 10:10

Ribeirinho leva saúde a comunidade que não tem acesso a serviços médicos
Compartilhe
Tamanho do texto:
 “A vida de quem mora no interior é esperar que o socorro venha até a gente.” Foi assim que dona Célia Aparecida França resumiu a busca pela manutenção da saúde da filha Daniela França. Com 28 anos e severos problemas neurológicos desde o nascimento, quando tinha 2 anos, Daniela foi acometida de sarampo e acabou ficando com sequelas irreversíveis. Ela, que já fazia poucas coisas sozinhas, desde então parou de falar e passou a depender totalmente da ajuda da mãe.
 
Nesta sexta-feira (13 de março), elas vieram até o Ribeirinho Cidadão, em busca de atendimento médico. O evento é realizado em Pontal do Glória, distrito de Santo Antônio do Leverger, que fica a 30 quilômetros de Agrovila das Palmeiras, local mais próximo com um posto de Programa de Saúde da Família (PSF). A estrada para chegar a Agrovila é de chão batido e tão ruim que chega a demorar 1 hora para que o trajeto seja realizado.
 
Com toda essa dificuldade, dona Célia conta que não levou a filha ao médico, ainda que ela estivesse há uma semana com dores musculares. Mesmo não sendo médica, o diagnóstico dela é baseado na experiência que ela adquiriu ao longo dos anos acompanhando os altos e baixos de Daniela e foi confirmado pelo médico que está atendendo no Ribeirinho Cidadão, Thiago Kenji Ueda. Depois de falar com o clínico-geral, ela saiu com uma receita pegar os remédios gratuitamente e também com encaminhamento para um neurologista.
 
“Aqui, onde moramos, não temos nada, então a gente aproveita quando vem um médico da cidade pra poder consultar e dar as receitas que a gente precisa. É uma vida muito difícil, você não tem ideia. Ela toma remédios controlados e eles precisam ser ajustados constantemente, caso eles façam mal, ela fica nervosa, e acaba ficando agressiva, chega até a bater na gente. O médico hoje me ajudou passando um encaminhamento. Daí eu consigo uma consulta mais rápida.”
 
Ueda é médico da prefeitura de Cuiabá, parceira no projeto, e conta que casos como o de Daniela é um dos casos mais difíceis não só pelo atendimento, que precisa de um especialista, mas também pelas dificuldades sociais e econômica que a família enfrenta. “As populações que estamos visitando são muito carentes. A gente percebe que a dificuldade em realizar uma consulta médica é muito grande e, por isso, muitas vezes eles acabam desistindo de ir a um local que tenha atendimento adequado.”
 
Formado há um mês, o médico ressalta ainda que o projeto vai deixar marcas na vida pessoal. “Quando a gente atende essas pessoas tão necessitadas e com tanta dificuldade, vê que muitas vezes, por conta da rotina, não dá valor a tudo que tem. O contato com essa outra realidade, tão distante do que vemos na cidade, me faz perceber o quanto é necessário agradecer. Por mais que tenhamos dificuldades, nessa expedição vemos que tem pessoas com mais dificuldades que as nossas”, conclui o médico.
 
O atendimento foi realizado no caminhão do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), outro parceiro do Ribeirinho Cidadão que acompanha os projetos voltados à população realizados pelo Tribunal de Justiça de Mato Grosso.
 
Paralelamente ao atendimento de Daniela, no outro consultório era atendido Jair Antônio da Silva. Ele foi se consultar com a dentista que também estava atendendo no caminhão para “dar uma ajeitada na boca” já que faz cinco anos que não faz uma visita a um consultório odontológico. “Quando têm esses serviços assim a gente tem que aproveitar, cheguei até mais cedo para pegar uma senha. Essa é a única oportunidade que a gente tem de ir ao dentista. Agora, só quando o Ribeirinho Cidadão passar por aqui de novo no ano que vem.”
 
Segundo a dentista Suellen Ribeiro, que atende em Agrovila da Palmeiras e veio atender a comunidade, a população é muito carente e realmente só vai ao dentista quando têm esses atendimentos comunitários como o Ribeirinho Cidadão. “Eles não conseguem buscar atendimentos fora de onde eles moram por falta de estrutura financeira e até social. Quando venho nesses projetos, percebo que a maioria precisa de extração do dente por conta de periodontite (perda óssea) e se tivesse feita uma manutenção e os cuidados corretos não seria necessária”, afirma.
 
No caso de Jair, ele precisaria obturar todos os dentes que ainda possui na boca, mas como a fila é grande, a dentista obtura de dois a três dentes por pessoa, faz uma limpeza bucal e, em seguida, dá uma aula de cuidados necessários para manter a saúde da boca.
 
Keila Maressa. Fotos: Alair Ribeiro
Coordenadoria de Comunicação do TJMT
imprensa@tjmt.jus.br
(65) 3617-3393/3394