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 29/09/2025   10:33   

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Autismo exige olhar individualizado e multidisciplinar, afirma médica em capacitação do TJMT

Durante a 4ª edição do projeto “TJMT Inclusivo – Capacitação e Conscientização em Autismo”, realizada no Fórum de Cáceres, a médica psiquiatra Audrey Ribeiro, especialista em adultos, infância e adolescência, ministrou a palestra “Compreendendo o tratamento do autismo: caminhos e possibilidades”. Ela apresentou conceitos fundamentais sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA), os níveis de suporte necessários, as comorbidades mais frequentes e os caminhos terapêuticos que contribuem para a qualidade de vida das pessoas autistas.

A médica iniciou explicando que o autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por desafios na comunicação e na interação social, além da presença de interesses restritos e comportamentos repetitivos. “Ele é chamado de espectro justamente porque se manifesta de diferentes formas e intensidades, variando de pessoas que conseguem ter uma vida relativamente independente até aquelas que precisam de apoio substancial em atividades básicas do dia a dia”, afirmou.

Na palestra, Audrey explicou que o espectro se divide em três níveis de suporte e baseiam-se na quantidade de apoio necessário no dia a dia. O primeiro abrange pessoas que conseguem funcionar bem em muitos contextos, mas que precisam de apoio em situações específicas, principalmente em mudanças de rotina ou em interações sociais mais complexas. O segundo nível exige suporte substancial, já que a comunicação tende a ser mais comprometida, com frases curtas, repetitivas e dificuldades em lidar com alterações de ambiente, o que pode gerar grande angústia. Já o terceiro nível de suporte, por sua vez, requer apoio muito substancial, inclusive para tarefas básicas, pois a comunicação pode ser muito limitada ou até não verbal, acompanhada de forte inflexibilidade e risco de autoagressão.

A profissional destacou ainda que o autismo, na maioria dos casos, vem acompanhado de outras condições de saúde. Estudos indicam que cerca de 70% das pessoas no espectro apresentam ao menos uma comorbidade psiquiátrica, e 40% têm duas ou mais.

“Entre as mais comuns estão ansiedade, transtorno de déficit de atenção, hiperatividade, transtorno opositor desafiador, depressão, transtorno obsessivo-compulsivo e até dificuldades alimentares relacionadas a sensibilidades sensoriais. São condições que agravam os desafios do cotidiano, afetam a qualidade de vida e precisam ser reconhecidas para que o cuidado seja integral”, ressaltou.

Ao tratar das possibilidades terapêuticas, a psiquiatra ressaltou que o tratamento não medicamentoso é a base inicial para o acompanhamento de pessoas com TEA, sempre ajustado às necessidades de cada indivíduo. Ela citou a importância de terapias como a fonoaudiologia, que auxilia no desenvolvimento da comunicação verbal e não verbal; a terapia ocupacional, que ajuda nas atividades diárias e na integração sensorial; a psicoterapia, especialmente a cognitivo-comportamental, para lidar com ansiedade e depressão; além de práticas como psicopedagogia, análise do comportamento aplicada (ABA) e até mesmo a equoterapia, que promove avanços significativos em interação social, equilíbrio motor e autoestima por meio do contato com cavalos.

Embora não exista um medicamento específico para o autismo, a médica lembrou que fármacos podem ser utilizados para tratar sintomas associados que comprometem a qualidade de vida. “Medicamentos específicos podem ser prescritos em casos de irritabilidade, agressividade, compulsões, hiperatividade ou dificuldades graves de sono. No entanto, a decisão sobre a prescrição deve ser sempre individualizada e acompanhada por profissionais especializados”, alertou.

A psiquiatra também abordou a inclusão escolar, destacando que o objetivo não deve ser encaixar o aluno no modelo tradicional de ensino, mas adaptar a escola às necessidades do estudante. Isso pode incluir ajustes no ambiente físico, na metodologia e na forma de avaliação, além da presença de mediadores quando necessário. Na vida adulta, acrescentou, os desafios continuam, já que entrevistas de emprego, ambientes de trabalho pouco flexíveis e dificuldades de comunicação social podem limitar oportunidades. “Nesse sentido, a sociedade tem papel crucial na construção de espaços mais inclusivos. O objetivo não é normalizar essas pessoas, mas sim potencializar suas habilidades. O suporte familiar e comunitário é tão importante quanto qualquer intervenção clínica”, disse.

Encerrando sua participação, a médica avaliou a importância do Poder Judiciário em promover debates sobre o tema e respeito à neurodiversidade. “É fundamental que magistrados, servidores, educadores e a sociedade compreendam melhor o autismo e as necessidades da população neurodivergente. O número de diagnósticos tem aumentado, mas o assunto ainda é pouco discutido. Precisamos entender melhor o autismo e falar sobre direitos, inclusão escolar e mercado de trabalho, para que essas pessoas sejam integradas de fato. Eventos como este, promovidos pelo TJMT, ajudam a lançar luz sobre diferentes vertentes do tema e a trazer mais consciência à sociedade”, concluiu.

A 4ª edição do projeto “TJMT Inclusivo – Capacitação e Conscientização em Autismo” foi promovida pela Comissão de Acessibilidade e Inclusão do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT), em parceria com a Escola Superior da Magistratura (Esmagis-MT) e Escola dos Servidores, e reuniu magistrados(as), servidores(as), profissionais da saúde, da educação, estudantes, familiares e pessoas atípicas, consolidando-se como uma iniciativa de grande impacto social e jurídico para toda a região.

A edição em Cáceres soma-se a outras já realizadas em Sinop, Sorriso e Cuiabá, demonstrando o esforço do Tribunal em percorrer todo o estado levando informação e capacitação. Até o fim do ano, novas comarcas-polo receberão o projeto.

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Ana Assumpção / Foto: Josi Dias

Coordenadoria de Comunicação do TJMT

imprensa@tjmt.jus.br

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