Autismo exige olhar individualizado e multidisciplinar, afirma médica em capacitação do TJMT
Durante a 4ª edição do projeto
“TJMT Inclusivo – Capacitação e Conscientização em Autismo”, realizada no Fórum
de Cáceres, a médica psiquiatra Audrey Ribeiro, especialista em adultos, infância
e adolescência, ministrou a palestra “Compreendendo o tratamento do autismo:
caminhos e possibilidades”. Ela apresentou conceitos fundamentais sobre o
Transtorno do Espectro Autista (TEA), os níveis de suporte necessários, as
comorbidades mais frequentes e os caminhos terapêuticos que contribuem para a
qualidade de vida das pessoas autistas.
A médica iniciou explicando que o
autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por desafios na
comunicação e na interação social, além da presença de interesses restritos e
comportamentos repetitivos. “Ele é chamado de espectro justamente porque se
manifesta de diferentes formas e intensidades, variando de pessoas que
conseguem ter uma vida relativamente independente até aquelas que precisam de
apoio substancial em atividades básicas do dia a dia”, afirmou.
Na palestra, Audrey explicou que
o espectro se divide em três níveis de suporte e baseiam-se na quantidade de
apoio necessário no dia a dia. O primeiro abrange pessoas que conseguem
funcionar bem em muitos contextos, mas que precisam de apoio em situações
específicas, principalmente em mudanças de rotina ou em interações sociais mais
complexas. O segundo nível exige suporte substancial, já que a comunicação
tende a ser mais comprometida, com frases curtas, repetitivas e dificuldades em
lidar com alterações de ambiente, o que pode gerar grande angústia. Já o terceiro
nível de suporte, por sua vez, requer apoio muito substancial, inclusive para
tarefas básicas, pois a comunicação pode ser muito limitada ou até não verbal,
acompanhada de forte inflexibilidade e risco de autoagressão.
A profissional destacou ainda que
o autismo, na maioria dos casos, vem acompanhado de outras condições de saúde.
Estudos indicam que cerca de 70% das pessoas no espectro apresentam ao menos
uma comorbidade psiquiátrica, e 40% têm duas ou mais.
“Entre as mais comuns estão
ansiedade, transtorno de déficit de atenção, hiperatividade, transtorno
opositor desafiador, depressão, transtorno obsessivo-compulsivo e até
dificuldades alimentares relacionadas a sensibilidades sensoriais. São
condições que agravam os desafios do cotidiano, afetam a qualidade de vida e
precisam ser reconhecidas para que o cuidado seja integral”, ressaltou.
Ao tratar das possibilidades
terapêuticas, a psiquiatra ressaltou que o tratamento não medicamentoso é a
base inicial para o acompanhamento de pessoas com TEA, sempre ajustado às
necessidades de cada indivíduo. Ela citou a importância de terapias como a
fonoaudiologia, que auxilia no desenvolvimento da comunicação verbal e não
verbal; a terapia ocupacional, que ajuda nas atividades diárias e na integração
sensorial; a psicoterapia, especialmente a cognitivo-comportamental, para lidar
com ansiedade e depressão; além de práticas como psicopedagogia, análise do
comportamento aplicada (ABA) e até mesmo a equoterapia, que promove avanços
significativos em interação social, equilíbrio motor e autoestima por meio do
contato com cavalos.
Embora não exista um medicamento
específico para o autismo, a médica lembrou que fármacos podem ser utilizados
para tratar sintomas associados que comprometem a qualidade de vida. “Medicamentos
específicos podem ser prescritos em casos de irritabilidade, agressividade,
compulsões, hiperatividade ou dificuldades graves de sono. No entanto, a
decisão sobre a prescrição deve ser sempre individualizada e acompanhada por
profissionais especializados”, alertou.
A psiquiatra também abordou a
inclusão escolar, destacando que o objetivo não deve ser encaixar o aluno no
modelo tradicional de ensino, mas adaptar a escola às necessidades do
estudante. Isso pode incluir ajustes no ambiente físico, na metodologia e na
forma de avaliação, além da presença de mediadores quando necessário. Na vida
adulta, acrescentou, os desafios continuam, já que entrevistas de emprego,
ambientes de trabalho pouco flexíveis e dificuldades de comunicação social
podem limitar oportunidades. “Nesse sentido, a sociedade tem papel crucial na
construção de espaços mais inclusivos. O objetivo não é normalizar essas
pessoas, mas sim potencializar suas habilidades. O suporte familiar e comunitário
é tão importante quanto qualquer intervenção clínica”, disse.
Encerrando sua participação, a
médica avaliou a importância do Poder Judiciário em promover debates sobre o
tema e respeito à neurodiversidade. “É fundamental que magistrados, servidores,
educadores e a sociedade compreendam melhor o autismo e as necessidades da
população neurodivergente. O número de diagnósticos tem aumentado, mas o
assunto ainda é pouco discutido. Precisamos entender melhor o autismo e falar
sobre direitos, inclusão escolar e mercado de trabalho, para que essas pessoas
sejam integradas de fato. Eventos como este, promovidos pelo TJMT, ajudam a
lançar luz sobre diferentes vertentes do tema e a trazer mais consciência à
sociedade”, concluiu.
A 4ª edição do projeto “TJMT
Inclusivo – Capacitação e Conscientização em Autismo” foi promovida pela
Comissão de Acessibilidade e Inclusão do Tribunal de Justiça de Mato Grosso
(TJMT), em parceria com a Escola Superior da Magistratura (Esmagis-MT) e Escola dos Servidores, e reuniu magistrados(as), servidores(as), profissionais da saúde, da
educação, estudantes, familiares e pessoas atípicas, consolidando-se como uma
iniciativa de grande impacto social e jurídico para toda a região.
A edição em Cáceres soma-se a outras já realizadas em Sinop, Sorriso e Cuiabá, demonstrando o esforço do Tribunal em percorrer todo o estado levando informação e capacitação. Até o fim do ano, novas comarcas-polo receberão o projeto.
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Ana Assumpção / Foto: Josi Dias
Coordenadoria de Comunicação do TJMT
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