TJMT Inclusivo mostra que pessoas com autismo são protagonistas da própria história
O
diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) quase sempre chega envolto
em incertezas. Para mães, pais e familiares, esse momento costuma vir
acompanhado de angústias, dúvidas e medos. “Como será o futuro?”, “Será que ele
vai falar?”, “Será que vai conseguir se desenvolver, fazer amigos, trabalhar?”.
Essas são perguntas comuns que atravessam a rotina de quem cuida de uma pessoa
autista. Mas também são perguntas que podem encontrar respostas mais positivas
quando o diagnóstico é feito de forma precoce e, sobretudo, quando há suporte,
acolhimento e oportunidade de desenvolvimento pleno.
E essa foi a mensagem que permeou as palestras “Lugar de autista é em todo lugar” e “Tudo que eu posso ser”, ministradas por Nicolas Brito Sales, durante o “TJMT Inclusivo: Capacitação e Conscientização em Autismo”, nas etapas de Sinop (500km de Cuiabá) e Sorriso (397km de Cuiabá). Autista, artista plástico, fotógrafo premiado, escritor e palestrante, Nicolas reforçou que o que a ciência, as famílias e o Poder Judiciário já defendem, que é o diagnóstico precoce, aliado à escuta ativa da sociedade a fim de garantir o desenvolvimento adequado e a inclusão efetiva de pessoas com TEA.
Promovida
pela Comissão de Acessibilidade e Inclusão do TJMT, presidida pela
desembargadora Nilza Maria Pôssas de Carvalho, essa ação deixa claro que o
Judiciário mato-grossense está ao lado das famílias atípicas, aplicando leis e,
principalmente, construindo caminhos de escuta, empatia e políticas públicas
eficazes. “O autismo não é pauta de um dia. É um compromisso permanente do
nosso Judiciário”, reforçou a desembargadora.
Diagnosticado com TEA aos cinco anos e meio, Nicolas passou anos sem se comunicar verbalmente, com dificuldades na socialização, na escola e na autonomia. Mas também viveu o poder da estimulação precoce, do acolhimento familiar e da inclusão escolar. Hoje, ele fala de sonhos e conquistas reais. “Eu gosto de ser autista e não me vejo de outra forma”, afirmou ele, ao dividir com os participantes sua paixão pela arte e a forma como ela se tornou um canal de comunicação com o mundo. Suas fotos já participaram de exposições no Brasil e no exterior.
Com bom humor e sensibilidade, Nicolas desconstruiu estereótipos como “autistas não são criativos”, “não conseguem trabalhar em equipe” ou “precisam de supervisão constante”.
Ele reforçou que, com adaptações simples e acessibilidade real, autistas podem sim ocupar todos os espaços, que permeiam da arte ao mercado de trabalho, da escola à vida em comunidade. “Quando vemos pessoas autistas ocupando espaços importantes, isso quebra preconceitos e nos faz acreditar que também podemos estar ali”, disse. Para ele, não se trata de presença simbólica, mas de protagonismo.
Coração aquecido - Para muitas mães atípicas presentes no “TJMT Inclusivo”, ouvir a história de superação e protagonismo de um jovem autista foi como enxergar, pela primeira vez, um caminho possível em meio às dúvidas e medos que acompanham o diagnóstico.
Daiane
Aparecida Silva Santos, mãe de um menino de 5 anos com TEA, viu na fala de
Nicolas um espelho da própria trajetória com o filho e um chamado à
transformação. “Eu vi o quanto ele evoluiu. Isso ajuda a tirar aquele medo que
a gente sente lá no começo. A gente precisa de iniciativas que quebrem
paradigmas de verdade”, disse. “Tem muita mãe que não sabe por onde começar e
esse tipo de evento mostra o caminho, responde à primeira dúvida de todas as
mães que é ‘E agora, o que que eu faço?’”, complementou.
Geysiane Alexandre Araújo da Silva, educadora e mãe de uma menina autista de 5 anos, encontrou nas palestras o acolhimento do Judiciário a essa causa. “A gente nunca viu isso. Ver essa preocupação com nossos filhos, vindo do Judiciário, é surpreendente”, afirmou. Para ela, o evento abriu portas e mostrou que há caminhos possíveis, direitos a serem garantidos e um potencial imenso a ser cultivado. “Eu saio daqui com a esperança renovada.”
Já
Rainara Souza Silva Gama, que vive os primeiros passos da jornada atípica ao
lado da filha, de 3 anos, encontrou no evento o que chamou de “um abraço do
conhecimento”. Ela destacou o quanto esse tipo de ação ajuda a construir uma
nova forma de ver e lidar com o autismo. “Esse evento me ensinou muito. A gente
aprende a lidar com eles, a entender mais”. E confidenciou o desejo para
o futuro da filha. “Vejo ela sendo mais aceita. Sei que, com mais informação,
as pessoas vão compreender o jeitinho dela.”
Escuta ativa - O “TJMT Inclusivo” evidenciou a atuação do Judiciário como agente ativo de transformação. Durante os encontros, além das palestras, foram produzidos enunciados jurídicos orientativos sobre o TEA e apresentada a proposta de inclusão de um especialista em autismo no Núcleo de Apoio Técnico (NATJus) do TJMT, para embasar decisões judiciais na área da saúde com mais qualidade técnica e sensibilidade.
“Estamos
aqui para ouvir, compreender e agir. Escutar as famílias, os especialistas e,
principalmente, as pessoas com autismo é o que vai nos permitir julgar com mais
justiça e humanidade”, observou a desembargadora Nilza, que, além de presidente
da Comissão de Inclusão e Acessibilidade, também é vice-presidente do
TJMT.
Magistrados, defensores, promotores e representantes da OAB também reconheceram que esse movimento de aproximação entre o Poder Judiciário e a sociedade fortalece toda a rede de proteção. Além de Nicolas, outros profissionais também ministraram palestras, abordando temas como diagnóstico precoce, tecnologia assistiva, neurociência aplicada à inclusão, educação inclusiva, mitos sobre autismo e mercado de trabalho. A ação foi especialmente significativa por ocorrer no mês em que se celebra o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, em 2 de abril.
As gravações completas dos eventos estão disponíveis no canal de eventos do Tribunal de Justiça de Mato Grosso no YouTube, com links para as edições realizadas em Sinop (https://www.youtube.com/watch?v=25OzkYkUZU4&t=9714s ), Sorriso (https://www.youtube.com/watch?v=ZPIk59-cdvM&t=3s ) e Cuiabá (https://www.youtube.com/watch?v=DIwsD7wg0CE ).
Talita Ormond / Foto: Alair Ribeiro
Coordenadoria de Comunicação do TJMT
imprensa@tjmt.jus.br











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