Mutirão PopRuaJud em Rondonópolis promove cidadania e inclusão para pessoas em situação de rua

Uma das pessoas impactadas com a ação foi a pedreira Célia de Souza Moraes Martins, de 37 anos. De Marabá (PA), há três anos, em Rondonópolis, ela está há seis meses nessa situação, após uma forte desilusão no casamento, e dorme esporadicamente em albergues, “quando há vagas”. No mutirão, deu entrada na averbação do divórcio, aproveitou para regularizar o título de eleitor e a carteira de trabalho, foi orientada sobre questões bancárias e deixou o nome no cadastro de empregos disponível. “Nunca tinha visto nada assim. Estou muito feliz com o atendimento e vejo que há uma luz no fim do túnel”.
Dar andamento a documentos civis também foi um dos focos do rondonopolitano Antônio Carlos Evangelista, de 59 anos. “Estive na rua por muitos anos e já enfrentei muita coisa. Não tenho dinheiro para conseguir todos esses documentos. Me falaram que era R$ 300, na última vez que me informei. Hoje saio daqui com tudo resolvido, num dia só, sem pagar nada. É muita benção. E ainda cortei o cabelo!”.
Esses foram alguns dos depoimentos entusiasmados registrados no Ganha Tempo de Rondonópolis, local onde se concentraram os atendimentos. Para o desembargador Mario Roberto Kono de Oliveira, que atua como presidente do Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos (Nupemec), coordenador do Comitê Multinível, Multissetorial e Interinstitucional para a Promoção de Políticas Públicas de Atenção às Pessoas em Situação de Rua (CMMIRua-PJMT) e membro do Comitê Nacional PopRuaJud, o mutirão é aplicar o que consta na Constituição, envolvendo de perto os operados do Direito no cotidiano das pessoas. “Estamos obedecendo a uma resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que prioriza os invisíveis. Isso exige sair dos gabinetes e encontrar essas pessoas, oferecendo mais dignidade. E isso só é possível com o engajamento de uma rede comprometida”, apontou. “Todos temos direitos básicos assegurados pela Constituição e cabe ao Poder Judiciário a efetivação desses fundamentos. Todos somos iguais e é preciso transformar as leis em realidade”.

O juiz coordenador do Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (Cejusc) de Rondonópolis, Wanderlei Reis, também evidenciou a importância dessa mobilização institucional. “Essa é uma política pública de inclusão que busca garantir a dignidade da pessoa humana. O Poder Judiciário de Mato Grosso, por meio dos núcleos e comitês, se soma a essa causa como parceiro ativo. Estamos aqui para contribuir de forma efetiva, aproximando a Justiça de quem mais precisa dela”, destacou. Posicionamento compartilhado pelo juiz Marcos Faleiros, da 4ª Vara Criminal de Cuiabá, e pelo juiz Geraldo Fidelis, da 2ª Vara Criminal de Cuiabá, que acompanharam de perto toda a mobilização. “As questões ligadas às pessoas em situação de rua não afetam somente essa população, mas um ecossistema. Estamos aqui procurando meios para amenizar o sofrimento vivido por essas pessoas, devolvendo cidadania a elas, faz com que a gente busque alternativas para que um dia não mais precisem estar nessa situação”, refletiu Faleiros. “É o Judiciário presente onde as pessoas estão, compreendendo as dores e buscando a pacificação social. E essa população, que enfrenta sol e chuva, é muito vulnerável e precisa dessa atenção e desse contato direto”, endossou Fidelis.

Também compareceram à iniciativa o vice-governador Otaviano Pivetta, o prefeito de Rondonópolis, Claudio Oliveira, secretários estaduais e municipais, vereadores e outras autoridades. “Resgatar esses nossos irmãos é um dever do Estado. É nosso compromisso dar as condições para ser possível realizar eventos como esse nos municípios. É preciso devolver cidadania a essas pessoas”, afirmou o vice-governador. “Só tenho a parabenizar o Judiciário pela iniciativa e pela postura por não ficar insensível a essas questões. Isso é promover a Justiça e estaremos sempre por aqui para apoiar”, complementou o prefeito.
Inclusão e humanidade - Essa ação de cidadania é coordenada nacionalmente pelo Conselho Nacional de Justiça, por meio da Resolução 425 de 2021, que instituiu a Política Nacional Judicial de Atenção às Pessoas em Situação de Rua e suas Interseccionalidades. Durante todo o dia, a população em situação de rua e em vulnerabilidade social recebeu uma série de atendimentos, atos concretos de humanidade, dignidade e inclusão. O mutirão visa garantir o acesso facilitado à Justiça, com atendimentos jurídicos nas esferas estadual e federal, emissão de documentos, serviços de saúde, assistência social, vacinação, corte de cabelo, oportunidades de emprego, atendimento odontológico e psicológico, orientação jurídica e inclusão em programas sociais, entre outros.
Além dos atendimentos e emissão de documentos, houve uma série de atividades complementares que tornam o mutirão um espaço de acolhimento e cidadania como oficinas culturais e esportivas, atenção aos animais de estimação da população em situação de rua, doação de óculos e de roupas e kits de higiene, massagem, banho solidário e entrega de medicamentos.

Desconstrução de paradigmas – Na noite de quarta-feira (14 de maio), véspera do evento, voluntários e instituições envolvidas participaram, no auditório do Tribunal do Júri do Fórum de Rondonópolis, de uma palestra de sensibilização intitulada “PopRuaJud: Diálogos e Afetos” com o professor Juliano Batista dos Santos, docente de Filosofia do campus Cuiabá do Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT) e pesquisador da realidade das ruas. O objetivo foi preparar as equipes com uma abordagem mais empática e consciente.

Além dos aspectos teóricos, o professor trouxe à reflexão as experiências reais vividas durante os quatro anos da pesquisa de doutorado com a população em situação de rua, sendo quatro meses vivendo como um deles na região Centro Norte, em Cuiabá. "A ideia é desconstruir preconceitos, mostrar o lado humano dessas pessoas e reforçar que a recuperação da dignidade passa por políticas públicas de habitação, geração de renda e inclusão. Dignidade é o direito de ter direitos", afirmou o professor. O docente revelou, por meio de vivências e pesquisas, o que fazem as pessoas em situação de rua, o que as mantêm nesse cenário, quais as condições que enfrentam, os perfis dessa população, as táticas de sobrevivência e a adaptação delas à vida nas ruas. “São pessoas que estão em ‘vida nua’, pois perdem direitos jurídicos e políticos e vivem meramente em estado biológico. Vive-se em estado de exceção, em desproteção da vida. Vivem em potência de morte, que não se trata do desejo de morrer e sim de não seguir com a vida porque tudo está muito ruim. Torna-se, então, um ser indesejável, excluído e passível de esquecimento”, elencou.
Foram apresentadas ainda a importância das redes de apoio e das ações solidárias, como também fontes oficiais com estatísticas que possam embasar cada vez mais a instituição de políticas públicas a essa parcela da população. Segundo Juliano Batista, a atuação integrada dos profissionais da rede e a sensibilização prévia são determinantes para que a ação do Judiciário alcance, de fato, resultados transformadores. “Além de atender, é preciso enxergar. É preciso entender por que essas pessoas foram parar na rua e o que as impede de sair de lá”, observou.
Registre-se - Simultaneamente ao 1° Mutirão PopRuaJudMT de Rondonópolis, ocorre a 3ª Semana Nacional do Registro Civil – “Registre-se!”, iniciativa da Corregedoria-Geral da Justiça de Mato Grosso (CGJ-MT), também no Ganha Tempo. Essa iniciativa visa combater o sub-registro e garantir aos cidadãos, acesso à documentação básica para que essas pessoas possam exercer seus direitos civis.
Em Mato Grosso, essa campanha é realizada entre os dias 12 e 16 de maio e oferece atendimentos gratuitos voltados à emissão de documentos básicos, como certidão de nascimento, RG, título de eleitor, CPF, Carteira de Identidade Nacional (CIN), além da regularização de registros civis. A iniciativa tem como público pessoas em situação de vulnerabilidade, incluindo a população em situação de rua, pessoas trans, indígenas, egressos do sistema prisional e também aqueles que buscam atendimento de forma espontânea.
O encerramento oficial das ações em Rondonópolis está previsto para às 18h30, no Tribunal do Júri de Rondonópolis, com a presença das instituições parceiras, voluntários e servidores envolvidos, momento em que os resultados dos atendimentos serão apresentados e os parceiros homenageados pelo esforço conjunto.
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Talita Ormond / Foto: Josi Dias
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