Projeto ‘Mulheres em Defesa’ devolve autoconfiança e reduz vulnerabilidade no cotidiano das mulheres
Seja nos lares ou nas ruas,
a qualquer momento uma mulher pode ser alvo de violência física. Sempre
vigilante para a realidade das mulheres, o Centro Especializado de Atendimento
às Vítimas de Crimes e Atos Infracionais (Ceav), do Fórum de Cuiabá, iniciou,
nesta terça-feira (10 de junho), a quarta turma do curso “Mulheres em Defesa”.
Este curso ensina técnicas simples e eficazes de defesa pessoal, voltadas para
o dia a dia da mulher. A capacitação ocorre em três encontros com duração de
duas horas. Os próximos serão nos dias 17 e 24 de junho.
Grávida de sete meses do seu terceiro filho, Aline Souto, de 31 anos, carrega no rosto e no braço as marcas de um ataque que sofreu no Centro da Capital, quando retornava de um posto de saúde.
“Ainda estou com hematomas pelo corpo, mas, graças a Deus, consegui
correr. Se não tivesse conseguido fugir, temo que o agressor poderia ter
cometido outro crime ainda mais grave, o abuso sexual”, relatou a vítima, que
também é uma das 30 alunas do curso Mulheres em Defesa.
O projeto foi criado com o
propósito de dar condições de defesa às mulheres que já foram vítimas da
violência doméstica e estão sob a tutela protetiva da justiça. A partir desta
edição, a iniciativa amplia sua atuação ao atender todas as mulheres que
queiram aprender técnicas de autodefesa do Krav Maga.
“O curso é indicado para
qualquer mulher que esteja vulnerável à violência urbana — o que, infelizmente,
é uma realidade comum. Muitas estudam à noite, trabalham até tarde e, por
vezes, não têm um ponto de ônibus próximo de casa. São situações que aumentam o
risco quando andam sozinhas na rua”, observa a juíza titular da 1ª Vara
Especializada de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher e coordenadora
do Ceav Cuiabá, Ana Graziela Vaz de Campos Alves Corrêa.
Autodefesa
Durante o curso, as participantes
são instruídas a se defenderem com segurança das abordagens agressivas, como
esganadura, e até como se proteger de ataques de facas e armas de fogo.
“São explicadas situações de
risco e orientações de como evitá-las. O professor instrui de forma clara e
prática, para que elas saibam como se proteger e como evitar exposição nas
situações de risco”, disse a magistrada ao se referir ao instrutor do curso,
Leonardo Bocchese.
Já no início da capacitação,
Leonardo explica que o preparo técnico das mulheres é necessário para dar
chances de fuga, ao considerar que a força masculina representa o dobro da
feminina. “Nas situações de risco, é a agilidade que pode fazer a diferença. A
partir do uso de técnicas e do conhecimento da leitura corporal, ela consegue
se defender e evitar que o pior aconteça”.
O aprendizado visa impedir
agressões físicas. Um dos princípios básicos do Krav Maga é que a defesa começa
antes mesmo do contato físico, ainda durante a discussão verbal. A defesa
envolve como posicionar o corpo, mostrar as mãos e estabelece a distância com o
possível agressor.
“Por exemplo: jamais fechar
os punhos, pois isso sinaliza que você quer brigar e pode agravar a situação. A
comunicação corporal é fundamental para evitar o conflito físico e transmitir a
intenção de apaziguamento”, alerta o instrutor, que também explica o porquê de
a técnica usar movimentos simples.
“Em momentos de estresse, o
corpo não responde a movimentos complexos. Por isso, o curso foca em técnicas
simples e funcionais, que podem ser usadas mesmo quando não se sabe como virá o
ataque: se será um soco, um empurrão, um agarrão. A defesa deve ser flexível,
rápida e segura, pois na realidade não há nada combinado”.
Autoconfiança
Os ensinamentos repassados
na tarde desta terça-feira contribuíram para devolver um pouco da autoconfiança
à Aline Souto. “Aprendemos golpes precisos e diretos, mas, acima de tudo,
técnicas eficazes de proteção. São movimentos que nos ensinam a nos defender e,
ao mesmo tempo, neutralizar uma agressão. É uma forma prática e necessária de
garantir nossa segurança”.
Além de aluna, Aline é uma
das assistidas do Ceav Cuiabá desde 2021, quando colocou fim a um casamento de
12 anos, marcado por agressões físicas e psicológicas. “Agora estou muito feliz
e ansiosa para concluir o curso. Quero compartilhar o que aprendi com outras
mulheres — amigas, colegas, minha mãe, minha avó. Acredito que toda mulher
deveria ter acesso a esse tipo de conhecimento desde cedo, ainda na escola.
Precisamos estar preparadas para nos defender”.
A iniciativa do Poder
Judiciário de Mato Grosso é modelo para outros tribunais e está de acordo com o
Projeto de Lei nº 1813/2022, que tramita na Câmara de Deputados Federal. A
proposta é melhorar a Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006) para que a União,
estados, Distrito Federal (DF) e municípios ofereçam cursos gratuitos de defesa
pessoal para mulheres vítimas de violência doméstica e familiar.
Papel do Judiciário na prevenção
Com iniciativas como essa, o
Judiciário de Mato Grosso amplia sua atuação para além de julgamentos de casos
de violência e reforça seu compromisso com a prevenção.
“Não basta julgar processos.
É preciso empoderar essas mulheres. As estatísticas mostram que a maioria dos
feminicídios é cometida com facas — um objeto de fácil acesso, presente em
qualquer residência. E já na primeira aula do curso, as participantes aprendem
como se defender de agressões com faca e de esganadura. Quantas vidas poderiam
ter sido salvas se elas tivessem conhecimento básico de defesa pessoal? Uma
técnica simples pode ser decisiva para a sobrevivência em situações extremas”,
finaliza a juíza Ana Graziela.
CEAV
O Ceav Cuiabá oferece
atendimento multidisciplinar que inclui psicólogos e assistentes sociais para
dar suporte integral à vítima. As assistidas recebem orientações relacionadas
ao trâmite processual e atendimento e acolhimento de familiares.
Cuiabá
Telefone: 65 3648-6898
Whatsapp: 65 9 99247-1462
E-mail:
cba.centroespvitimas@tjmt.jus.br
Endereço (Fórum de Cuiabá –
MT | Av. Milton Figueiredo Ferreira Mendes, s/nº Centro Político e
Administrativo).
Várzea Grande
Telefone e Whatsapp: 65
3688-8404
E-mail: vgf.cav@tjmt.jus.br
Endereço (Fórum de Várzea Grande – MT| Av. Chapéu do Sol – Guarita II, Várzea Grande).
Priscilla Silva
Coordenadoria de Comunicação do TJMT
imprensa@tjmt.jus.br
20/01/2025 11:39
Centro de acolhimento do TJMT zela pela integridade emocional de vítimas de violência
24/01/2025 18:22
Centro de Atendimento do Judiciário amplia perspectiva de renda de vítimas de violência doméstica
12/12/2024 13:27
Centro de Atendimento às Vítimas cria ambiente seguro para mulheres terem acesso à renda