Psicólogos e assistentes sociais que atuam em grupos reflexivos participam de capacitação
Começou nesta segunda-feira (14 de
julho) a capacitação para
Facilitadores para Programas de Reflexão e Sensibilização para Autores de
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, promovido pela Coordenadoria
Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar (Cemulher-MT)
do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) com intuito de aprimorar o
trabalho realizado por psicólogos e assistentes sociais que atuam em grupos
reflexivos de homens que respondem a ações de violência doméstica.
Coordenadora
da Cemulher-MT, a desembargadora Maria Erotides Kneip, juntamente com a juíza Ana
Graziela Vaz de Campos Alves Corrêa e toda equipe da Cemulher, participou da
abertura da capacitação, destacando o ineditismo da ação voltada às equipes
multidisciplinares que atuam na varas de violência doméstica e familiar contra
a mulher.
“Nós temos que cuidar daqueles que
cuidam dos agressores porque não é uma tarefa fácil. Até bem pouco tempo, nós
achávamos que deveríamos cuidar apenas das mulheres vítimas. E hoje nós sabemos
que essa política de enfrentamento à violência doméstica passa necessariamente
pelo tratamento do agressor, pelo tratamento do homem autor da violência. E
esses profissionais, psicólogos e assistentes sociais, precisam estar sendo
cada vez mais capacitados e preparados para esse enfrentamento”, explica.
Para a desembargadora, a preparação
pode gerar bons resultados para o trabalho do Poder Judiciário no enfrentamento
à violência contra a mulher. “O mundo é muito dinâmico, a Ciência é dinâmica e
o entendimento das causas primárias da violência precisa ser renovado, precisa
estar sempre sendo buscado. E essas ações conjuntas com pessoas que podem
trocar experiências e com aqueles que lidam especificamente no campo jurídico
são fundamentais”, comenta.
A
qualificação vai até a próxima quarta-feira (16) e tem como facilitadores o
juiz Marcelo Sousa Melo Bento de Resende, titular da 2ª Vara Criminal de Barra
do Garças, e a advogada e presidente da Academia Mato-grossense de Direito
(AMD), Dinara de Arruda Oliveira.
De acordo com o magistrado, a capacitação tem como um dos objetivos preparar as equipes multidisciplinares quanto à elaboração de análises psicossociais, levando em conta as normativas previstas pelo Poder Judiciário. “Temos o jurídico, de um lado; e a Psicologia e o Serviço Social. Então, muitas vezes, a gente tem que fazer com que essa fala fique harmônica para que o atendimento à vítima seja de excelência”, afirma.
O juiz Marcelo
Resende pontua que o grupo reflexivo é uma maneira efetiva de o Poder Judiciário
dar respostas efetivas à sociedade, no que diz respeito a crimes de violência
contra a mulher, por meio do incentivo à mudança de comportamento do homem
autor de violência.
“O Poder Judiciário
trabalha, via de regra, com a punição. Quando a gente fala em grupo reflexivo,
é uma chamada à responsabilização, fazer com que aquele agressor pense naquilo
que ele está fazendo e chamar para ele a sua responsabilidade. Isso só vem com
a reflexão. Nenhuma punição que o Poder Judiciário coloque como uma pena, por
mais alta que seja, necessariamente vai mudar o comportamento. [...] Então, se
eu não trago aquele homem à reflexão, para ele pensar nos seus atos,
infelizmente, a tendência é continuar a violência. Por isso a importância dos
grupos”, defende.
Em sua apresentação
no início do curso, a advogada Dinara Arruda fez um apanhado histórico sobre questões
relacionadas ao machismo, ao patriarcado e aos estereótipos, contextualizando conceitos
com a realidade. “O que eu tenho observado é que, muitas vezes, a violência
acontece justamente porque culturalmente isso é aceito. Então, nós temos uma
cultura machista, nós temos uma cultura inserida no patriarcado e, muitas
vezes, nós nem notamos que as violências acontecem. E muitas vezes, de certa
forma, isso é culpa, entre aspas, da própria legislação, porque até 2002, o
Código Civil vigente no Brasil ditava que a mulher casada tinha poucos
direitos”, afirma.
Psicólogo em grupos
reflexivos desde 2017, Dyumdy Araújo ressalta que em sua atuação junto a homens
autores de violência, lhe chama atenção exatamente a falta de conhecimento por
parte deles em relação a estarem cometendo violência, reflexo do que é
culturalmente apresentado como violência.
“O
que me chama atenção realmente é o que é divulgado na mídia. Toda vez que você
pesquisa alguma coisa, sempre tem uma mulher lesionada ou se defendendo. Então,
remete muito à violência física, então, o homem não se identifica nessa
situação. Tem violência patrimonial, tem violência psicológica... E quando você
começa a esclarecer essas dúvidas para eles, eles começam a se identificar”,
relata.
Atuante em grupo reflexivo na comarca
de Barra do Garças, a assistente social Awara Meri destaca a expectativa pela troca de conhecimentos com
profissionais das demais comarcas, da Capital e do interior, que participam da
capacitação, realizada na Escola dos Servidores, no TJMT.
“A questão da violência doméstica contra a mulher é mais abrangente, porém, tem particularidades em cada município. E quando todos se encontram, eu creio que seja uma grande ferramenta de construção de saberes. E nós precisamos desse momento por conta da situação gritante da violência doméstica. São muitos feminicídios, são muitas mulheres que sofrem com esse fator de violência doméstica. E os homens precisam que esse momento seja valorizado também por conta de ser um momento de reflexão, de mudanças de comportamento”, reflete.
Celly Silva / Foto: Josi Dias
Coordenadoria de Comunicação do TJMT
imprensa@tjmt.jus.br



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