Palestra discute como reduzir danos da separação
Quando casais dizem “sim” eles acreditam que o relacionamento vai durar para sempre. Entretanto, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que 30% dos casamentos terminam em divórcio no Brasil. E, em meio a um processo de separação tumultuado, o que resta são filhos e pais abalados. Para discutir formas de reduzir os impactos causados pela separação em pais e filhos, a juíza da Vara de Família e Sucessões de São Paulo, Vanessa Aufiero da Rocha, fez uma palestra para juízes de Varas de Família e coordenadores de Centros Judiciários de Mato Grosso.
A palestra “Oficina de Parentalidade e Divórcio”, realizada na quinta-feira (25/06), na Escola Superior da Magistratura do Estado de Mato Grosso (Esmagis), faz parte do II Encontro de Juízes Coordenadores das Centrais e dos Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania do Estado de Mato Grosso, realizado pelo Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (Nupemec).
Segundo a magistrada, a oficina é um relevante instrumento para a harmonização e a estabilização das relações familiares. “Hoje, vive-se o que Bauman (sociólogo polonês Zygmunt Bauman) chama de amor líquido. As relações se desfazem com muita facilidade e ficam traumas para todos os lados. Por isso, a necessidade de um programa educacional que ensine pais e filhos a passarem pela separação da melhor forma possível”.
Ela explica ainda que o grande vilão da história não é o divórcio em si, mas as brigas entre os pais, o afastamento dos filhos de um dos cônjuges e o impacto financeiro que a separação traz. “A harmonia entre os genitores é necessária para a resiliência dos filhos. Pesquisas indicam que o que causa grandes impactos emocionais e psicossomáticos nas crianças e adolescentes não é a separação, mas o comportamento dos pais diante dela”, esclarece Vanessa.
A juíza salienta que embora os pais sempre queiram o bem dos filhos, eles muitas vezes os utilizam para atingir o antigo parceiro. E é neste momento que o magistrado precisa intervir não só resolvendo o conflito judicial, mas colaborando para a construção da paz e da harmonia familiar. “É papel do magistrado ter sensibilidade social. Com uma oficina de 4 horas de duração, podemos evitar anos de conflito entre os pais e efeitos como agressividade, insônia, asma, depressão e ansiedade nos filhos”, acrescenta Vanessa.
Oficina – Os juízes encaminham para as oficinas processos de casais em separação litigiosa. Eles são divididos em 4 salas, 2 para os pais, uma para os adolescentes e outra para as crianças. “As salas dos adultos são mistas, mas os antigos casais ficam separados para evitar atritos. Durante a oficina, todos recebem uma cartilha específica sobre divórcio, ouvem orientações e ainda têm oportunidade de trocas experiências com os outros pais. A oficina já se mostrou um modelo de sucesso e queremos expandi-la por todo o país”, conta a palestrante.
Para a juíza da Terceira Vara Especializada de Família e Sucessões de Várzea Grande, Jaqueline Cherulli, a educação familiar proposta pela oficina é a melhor forma de lidar com esses casos, pois sai de um Judiciário litigioso, para um judiciário conciliador, especialmente com a chegada do novo Código de Processo Civil (CPC).
“Nós temos que preparar as famílias para os danos que essa ruptura poderá trazer. Sempre destacando que os filhos não podem pagar pelos desacertos dos pais. Não tenho a menor dúvida que a melhor forma de quebrar paradigmas e a cultura do litígio é por meio da conciliação e de oficinas como esta”, aponta a magistrada.
Evento - Coordenadora da Central de Conciliação da Capital, juíza Adair Julieta da Silva, frisou que o encontro está sendo fundamental para estimular a troca de experiências entre os magistrados que coordenam Centros Judiciários em Mato Grosso. “Com um Estado de proporções continentais, fica difícil trocarmos conhecimentos com os colegas e o evento nos proporciona isso. Sem contar com a presença de palestrantes de renome, que nos atualiza sobre temas de grande relevância como a parentalidade e o novo CPC”, garante.
Fechando o segundo dia do evento, o juiz auxiliar da vice-presidência do TJMT, vice-presidente do Fonamec e coordenador do Nupemec, Hildebrando da Costa Marques, falou das ações do Núcleo de Solução de Conflitos do Tribunal de Justiça e sobre o que está por vir. “As notícias sobre a conciliação e a mediação são muito boas. Instalamos 29 Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania em todo o Estado e já temos previsão para a inauguração de mais 3 unidades. E esse é só o começo. Nossa intenção é levar a cultura da conciliação para os quatro cantos deste Estado”.
O coordenador destaca ainda que uma das finalidades do encontro é preparar os centros judiciários para as ações que o Nupemec está planejando. “Estamos auxiliando na adequação dos centros ao novo CPC, queremos instalar uma metodologia de supervisão dos conciliadores e mediadores e ainda vamos desenvolver uma forma das parte avaliarem o serviço prestado pelas unidades”.
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