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15.05.2015 15:35

Dicas do Professor Germano - Sujeito
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  Na oração, o sujeito comanda o verbo
 

Há certos programas de televisão em que saem mais “largatos” que lagartos, mais “mortandelas” que mortadelas. Outros, no entanto, estão a merecer respeito, primando pelo uso de um português condizente com aquele dos que prezam a boa linguagem.

 

Se bem assim, de onde em onde destampam certos vacilos, sobretudo quando, na tentativa de imprimir descontração, os apresentadores dispensam o script, o texto-base.

 

Não faz muito deparei com esta pérola: A vida de todas essas pessoas que moram nas encostas dos morros “estão” em perigo. Bastou que distanciassem o verbo – “estão” – de seu efetivo sujeito – a vida de todas essas pessoas – para que o erro se consumasse.

 

Nessa mesma frase, ponhamos de lado a oração que, iniciada pelo pronome relativo que, recebe o nome de adjetiva restritiva – que (= pessoas) moram nas encostas dos morros. Sobrou a oração principal, agora com a concordância verbal nos trinques, bem-vestida: a vida de todas essas pessoas está em perigo.

 

Atentemos para isto: o núcleo do sujeito – a vida de todas essas pessoas – é o substantivo vida. Por estar no singular, obriga que o verbo lhe siga os passos: está. Deixar o verbo no plural é dar um tapa na lógica e na cara do telespectador.

 

Mais esta preciosidade, também de um telejornal conceituado: De modo geral, o valor dos aluguéis subiram na Região Sudeste.

 

Importante é registrar que, igualmente neste caso, o erro na aplicação da concordância, frequente na fala, se deve ao desconhecimento da sintaxe. É a parte da gramática que se ocupa do relacionamento entre os termos da oração. Em tempo: o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa – VOLP recomenda esta pronúncia: sintássi. Fiquemos com ela. Nada de sintáksi!

 

Voltemos à frase e nos perguntemos: qual é o núcleo do sujeito? No mais das vezes, é um substantivo sem preposição. Pincemos seu sujeito: o valor dos aluguéis. Daí se deduz que seu núcleo é valor, substantivo desprovido de preposição. Por estar no singular e por ser ele o termo que governa o verbo, este também deve estar no singular.

 

Pouco importa que o núcleo do sujeito venha acompanhado de um caminhão de adjuntos. Os adjuntos não apitam, em nada interferem. Olho no núcleo, sempre!

 

Para ficar isenta de qualquer senão, a frase não só perfeita quanto castiça é esta: De modo geral, o valor dos aluguéis subiu na Região Sudeste.

 

Essa falha, apontada nas duas orações em apreço, goza de livre trânsito por aí. Outro exemplo: A partir de hoje, a publicação de revistas, jornais e panfletos dependerá (e não “dependerão”) do aval do presidente da comissão.

 

Fizemos alusão à sintaxe. Quantos não há – em meio a nossos educadores – que empunham suas armas contra o ensino da indispensável análise sintática. Isso, acredito, é uma das razões por que nossos alunos não se saem bem nas provas de redação. Não têm noção alguma da estrutura de sua própria língua.

 

A continuarmos nessa trilha, ainda nos sujeitaremos a ouvir – vezes sem conta – frases semelhantes a estas: Que bom! “Começou” as férias. Se férias exerce o papel de sujeito e se o verbo vai sempre concordar com seu sujeito, o correto só pode ser: Que bom! Começaram as férias.

 

Outro deslize imperdoável: Não permita que os entraves do curso de Direito o “impeça” de alcançar seu objetivo maior. Nada disso! Limpemos esta oração daquilo que mutila o cerne da língua: o conhecimento da sintaxe. Correto é usemos o verbo no plural – impeçam –, porque o núcleo do sujeito está igualmente no plural: os entraves do curso de Direito. De novo: fique de olho no núcleo!

 

Cochilo, e cochilo dos graúdos, é construir: Ainda “persiste” algumas falhas em seu texto. Se o sujeito é algumas falhas, o verbo deve trotar pelo mesmo caminho. Plural nele: persistem.

 

“Falta” só quinze dias para as férias. Corramos léguas desta construção disparatada. O fato de deslocarmos o sujeito para uma posição que não lhe é costumeira induziu o falante a erro. Apropriado é apenas isto: Faltam só quinze dias para as férias. Afinal, o sujeito é quinze dias.

 

Fica-nos a convicção de que, se o sujeito encabeçasse a oração, viesse na ordem direta, menos erros haveria, menos lapsos ocorreriam. Posposto, o sujeito de certa forma se esconde sob o manto da invisibilidade.

 

Uma última palavra, com o intuito de aclarar – ainda que às pressas – as questões que abriram esta coluna. O foco se assenta no verbo ser, que comporta concordância específica. Merecerá, oportunamente, uma coluna toda para ele.

 

No caso, apropriadas são as alternativas a e d. Na opção a – O prazo é de trinta dias –, o sujeito é prazo. Daí o verbo no singular. A expressão de trinta dias traduz, com maior acerto, um adjunto adverbial de tempo. Não se trata de predicativo, como nesta frase: Pedro é trabalhador.

 

Já na alternativa d – O prazo são trinta dias –, é próprio do verbo ser privilegiar o predicativo no plural quando, estando o sujeito no singular – prazo –, este não corresponde a pessoa. Corretíssima, portanto. Mais estas: Vida de professor não são estas maravilhas todas. O problema eram as muriçocas.

 

Todavia, se o sujeito for pessoa, o verbo com ele concordará obrigatoriamente: O neto é as delícias do avô. José era só problemas.

 

Quanto às opções b e c, são indefensáveis. Na b – O prazo são de trinta dias –, deve o verbo combinar com seu sujeito prazo, no singular, passando, então, a se identificar com a alternativa a.

 

No que respeita à opção c – O prazo é trinta dias –, seu verbo será, como afirmamos acima, comandado pelo predicativo no plural, o que a levaria a corresponder à alternativa d.

 

Autor de notáveis sermões, o Pe. Antônio Vieira conhecia – como poucos – as riquezas e os tesouros de nosso idioma. É dono de um pensamento que se harmoniza com o tema. Combina o verbo ser com cada um, representando o nome de pessoa: Cada um é as suas ações, e não outra coisa. Quanta verdade! Somos o que são nossas ações.

 

Basta!

 

Professor Germano Aleixo Filho,
Assessor da Presidência do TJMT.