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10.06.2015 13:58

Dicas do Professor Germano - Infinitivo (I)
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 O uso do infinitivo (I)
 

Há coisas sobre as quais é difícil emitir opinião. Seja no falar, seja no escrever, nenhum tema transpira tantos cuidados – e incertezas – quanto o emprego do infinitivo. Até parece que estamos pisando em ovos. É uma barra!

Ponto de partida, neste texto, são frases pinçadas na imprensa, convidando-os a buscar – e não a buscarem – a teoria em obras especializadas. Regras em demasia embaraçam.

De bate-pronto esta afirmação do velho Napoleão Mendes de Almeida: Devemos limitar a flexão do infinitivo aos casos de real necessidade de identificação de seu sujeito. Dele colhemos este exemplo: Precisamos cavar o chão para obter água. O primeiro infinitivo – cavar –, por fazer parte de uma locução verbal, não pode ser flexionado. Quando se trata de locução, o verbo à esquerda – no caso precisamos (nós) – é que carrega o tempo. Já pensou escrever precisamos “cavarmos”? É de doer!

Outras orações em que impera locução verbal: Meus amigos decidiram se aposentar. Devemos amar a Deus sobre todas as coisas. O verbo à direita – que é o próprio infinitivo – fica inalterável. Nada de devemos “amarmos” a Deus. Coisa do capeta! Não combinam.

Voltemos à frase em análise. No segundo infinitivo – para obter água –, observemos que ele se reveste de uma particularidade: é antecedido de preposição. Se bem assim, seu sujeito continua sendo nós, identificando-se com o sujeito da oração principal: precisamos cavar o chão. Não há por que flexioná-lo: para “obtermos” água. Coisa feia! Vote!

Na revista Veja de 27-5-2015, a matéria relativa a sabotagem traz, em epígrafe, esta chamada: Procuradores da República desconfiam que grampos na PF do Paraná têm o objetivo de tumultuar as investigações da Operação Lava-Jato. Corretíssimo o emprego do infinitivo. Nem dá para engolir o monstrengo: têm de tumultuarem.

Guardemos para a vida esta conclusão prática: a flexão é desnecessária quando, havendo infinitivo preposicionado, seu sujeito se identifica com o sujeito ou com o objeto da oração principal, que o antecede.

Nestes dois exemplos, o sujeito da principal é o mesmo do infinitivo: os professores voltaram mais cedo para recepcionar os alunos. Fizemos (nós) o encontro a fim de aproximar os servidores. Nas duas seguintes, o sujeito do infinitivo corresponde ao próprio objeto direto da oração principal: A polícia forçou os desordeiros a sair do prédio. Ensinemos nossos filhos a respeitar os mais velhos.

Na mesma revista, artigo de Lya Luft, a autora pondera: Nossa indignação legítima e ordeira pode ajudar líderes decentes a dar um jeito neste país. O sujeito do infinitivo é, em verdade, o mesmo objeto direto da oração anterior: líderes decentes. Por isso, o infinitivo preposicionado – a dar – se mantém sem flexão. Como já observado na citada revista, parece haver uma tendência nesse sentido.

Esclareçamos de vez esta questão embaraçosa. Em casos semelhantes ao que acabamos de ver, é preferível não flexionar o infinitivo preposicionado quando este vem depois do verbo principal. Vejamos: Gastamos dois dias para vencer este percurso.

Se, por outro lado, este mesmo infinitivo encabeçar a oração, a clareza recomenda sua flexão: Para vencermos este percurso, gastamos dois dias. Igualmente: Na expectativa de sermos atendidos, muito lhe agradecemos.

No Judiciário, é comum escorregarmos nesta casca de banana: As peças do processo não estão bem documentadas, devendo serem substituídas pelo advogado. Disto não nos esqueçamos: o gerúndio já encerra a ideia de plural, dispensando, portanto, a flexão do infinitivo que o segue. Daí o correto: devendo ser substituídas.

Mais estas: designo a reunião para o dia tal, devendo os advogados comparecer (e não comparecerem) na hora marcada. Confirmo a audiência, competindo às partes apresentar (e não apresentarem) os laudos técnicos. Essa norma valida a correção da alternativa apontada como adequada na abertura desta coluna: As inscrições estão abertas, podendo os interessados dirigir-se ao Sindicato.

Quem se dispuser a percorrer as gramáticas, perceberá quão difícil é disciplinar o infinitivo. No fundo, a responsabilidade é repassada ao pobre do professor que, nem mesmo no curso superior, teve a oportunidade de aclarar suas dúvidas. Resultado: fica armado aquele auê.

Uma pincelada rápida sobre a flexão do infinitivo: ela é obrigatória quando ambas as orações – do infinitivo e do verbo da principal – tiverem sujeitos diferentes. Frise-se: o sujeito do infinitivo deve ser expresso – aparece de modo claro – ou elíptico – nome atual do velho sujeito oculto: O presidente do Tribunal fez de tudo para os servidores aceitarem a proposta de aumento. É de notar que o sujeito do infinitivo – os servidores – é diverso daquele que abre a oração: o presidente do Tribunal. Bem por isso, devemos flexionar o infinitivo sem medo de errar: aceitarem.

Reparemos nesta ocorrência: Os técnicos vieram para (eles mesmos) resolver o problema. Agora, há identificação do sujeito nas duas orações. Hoje, é melhor não flexionar o infinitivo. Cá entre nós: é até mais elegante. E ponto!

Às vezes, diante de possível ambiguidade do texto somos induzidos à flexão do infinitivo, fugindo ao que acabamos de defender. Atenção a esta frase: O presidente liberou os servidores para irem à conferência. No plural, o infinitivo confere ênfase ao objeto: os servidores é que foram dispensados para participar da conferência.

Se, por outro lado, mantivéssemos o verbo no singular – O presidente liberou os servidores para ir à conferência –, a dúvida se instalaria em nossa cabeça. Ficaríamos com a impressão de que, depois de liberar os servidores, o presidente foi à conferência. Se, neste caso, quisermos desfazer o caráter ambíguo, basta invertermos a ordem das orações: Para ir à conferência, o presidente liberou os servidores. E bingo!

De tudo podemos concluir que o princípio básico do infinitivo responde pelo nome de clareza. Se a ela adicionarmos uma pitada de eufonia, melhor ainda.

Basta!

 

                            Prof. Germano Aleixo Filho,
                                       Assessor da Presidência do TJMT.