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Poder Judiciário de Mato Grosso

 
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07.08.2015 10:47

Dicas do Professor Germano - Mato-grossense
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Definitivamente, Mato-Grossense
 

Há poucos dias, causou-me estranheza ouvir de um magistrado algo à feição disto: fiquei sabendo por um amigo que devemos, com as novas normas ortográficas, escrever matogrossense sem hífen. Está correto? De pronto a resposta: Nada mais enganoso. Seu amigo ouviu o galo cantar, sem saber onde nem por quê. Cilada pura.

Na 2. ed., p. 19, do Dicionário Escolar da Língua Portuguesa, concebido pela Academia Brasileira de Letras, passeia a regra de ouro: Serão hifenizados  os gentílicos derivados de topônimos compostos grafados ou não com elementos de ligação. Cita belo-horizontino e mato-grossense-do-sul. De modo bem caseiro, gentílico é o lugar em que a gente nasce. De sua vez, topônimo significa nome de lugar: Pará, Brasília, Cuiabá. 

Em 1995 – bote tempo nisso! –, publiquei alentado artigo em todos os jornais da Capital. Este o título: Afinal, somos mato-grossenses ou matogrossenses?

Mexi num vespeiro, sei disso. Em bem da verdade, toquei no calcanhar de aquiles da Academia de Letras do Estado. Alfinetei a Academia naquilo que mais a distingue: seu nome. À época, ela se autodenominava Academia Matogrossense de Letras.

Não nos furtemos a assinalar que essa grafia, nada adequada, velejava – peito aberto – por todo canto. Bastem-nos a confirmar: Associação Matogrossense de Municípios, Centrais Elétricas Matogrossenses S. A. e Federação Matogrossense de Futebol.

Motivos havia. No caso da Academia, a grafia de sua denominação provinha dum longínquo 7 de setembro de 1921: tinha sido batizada como Centro Matogrossense de Letras. O acadêmico Pedro Rocha Jucá, jornalista de conceito, alma nobre, assegurava – tomado dos melhores propósitos – que a palavra matogrossense fora reconhecida, através dos tempos, em nomes de instituições e empresas.

Deixado à parte o embate, convém afirmar que o termo mato-grossense, assim como está, fora contemplado com destaque pelo Acordo Ortográfico de 1990. Este, no entanto, não dispensou uma linha que fosse ao uso das maiúsculas iniciais nos nomes compostos. Seja dito sem receio: não sei se por mera falha de digitação, o mesmo Acordo – vejam só! – faz referência ao “Decreto-lei” n. 292. Hoje impensável.

Não por acaso, Celso Luft – a ele coube a revisão do Manual da Presidência da República –, em seu Grande Manual de Ortografia Globo, se contrapõe ao indigitado “Decreto-lei”. Em nota de rodapé, pontifica: nas composições hifenizadas, os elementos gozam de independência gráfica: Decreto-Lei, com L maiúsculo. Com a autoridade que carregava, Luft bateu o martelo.

O artigo a que fiz alusão ponderava: Qual o sentido de termos um “matogrossense” assim grafado, portanto dissociado de outros adjetivos com os quais guarda a mesma configuração, todos eles hifenizados? Eis alguns: porto-alegrense, espírito-santense, santa-mariense.

Arrematava: No Estado vizinho ao nosso, que há bem pouco foi pedaço integrante deste outro Mato Grosso, residem os mato-grossenses-do-sul, também chamados sul-mato-grossenses. Em sua Capital estão nossos irmãos campo-grandenses. Aqui, contudo, ficamos nós, os “matogrossenses”. Se não esquisito, ao menos nada compreensível...

É de supor a confusão gerada pelo artigo. Querem saber a verdade? Triunfou o bom-senso. Dos acadêmicos, não se poderia esperar outra resposta  que não esta: decidem-se, com inteira razão, por alterar o nome da Instituição que, em meio a seus  objetivos,  privilegia  este: cultivar  a língua  portuguesa. De lá pra cá,   corre   este nome: Academia  Mato-Grossense de Letras. Não houve derrotados. Prevaleceu a causa da cultura. Parabéns aos acadêmicos!

No rumo de mato-grossense, estes exemplos: passo-fundense, rio-branquense, santa-fé-sulense (de Santa Fé do Sul-SP), várzea-grandense. Quem nasce no Rio Grande do Sul é rio-grandense-do-sul, dito de igual modo sul-rio-grandense. O hífen, como vemos, é de lei.

Mato  Grosso, de sua vez, agasalha a cidade de Feliz Natal. Ao que é dela natural ou seu habitante, dizemos feliz-natalense. Já em Alagoas, temos Feliz Deserto. Lá residem os feliz-desertenses.

Curioso, ainda, é Não me Toque, no Rio Grande do Sul. Como são simpáticos os não-me-toquenses! E saber que há uma espécie de planta denominada não-me-toques. De notar: os nomes relacionados com a flora e com a fauna são sempre hifenizados. Vale trazer à cena, como fecho, a locução não me toques – agora sem hífen –, a significar pessoa recatada: aquela mulher é cheia de não me toques. Coisas da língua portuguesa!

Quanto ao uso de palavras compostas, uma boa orientação é esta: no caso de nome próprio – cargo, escola, instituição, evento –, todas as  iniciais  devem  ser  maiúsculas: Jogos  Pan-Americanos,  Procuradoria- -Geral de Justiça, Acordo  Luso-Brasileiro,  Advocacia-Geral da União,  Vice-Diretora-Geral, Juiz-Diretor do Foro, Corregedor-Geral da Justiça, Instituto Médico-Legal, Desembargador-Presidente.


Nessa toada, no que respeita à principal  Instituição de  cultura de Mato Grosso, só  nos  cabe  escrever Academia Mato-Grossense de Letras. De modo igual, reportando-nos à AMAM, devemos grafar Associação Mato-Grossense de Magistrados. Cá entre nós: Associação “Mato-grossense” de Magistrados é de doer. Escrever “Decreto-lei” n. 201 é de lascar. Tão impróprios como ir a um casamento de bermudas. Xô, satanás!

Basta!

Prof. Germano Aleixo Filho,
Assessor da Presidência do TJMT.