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20.05.2016 16:37

Dicas do Professor Germano - Subsídio
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Qual a pronúncia correta de subsídio?

 

Já faz bem tempo me solicitam uma coluna a propósito da pronúncia de subsídio. O que por aí corre – não escondamos a verdade – é a pronúncia com o som de /z/, isto é, /subzídio/.

 

Dizem que o dicionário é o pai dos burros. Melhor seria afirmar que ele é o mestre dos doutos. A definição de João Antônio Neto é saborosa: Dicionário é banquete de palavras. No tocante à pronúncia de subsídio, os dicionaristas recomendam apenas /subcídio/. De igual modo /subcidiar/ e /subcidiário/.

 

Está isso a significar que a letra s, que vem após a consoante b, não tem o som de /z/, como no mais das vezes chega às nossas orelhas. Nesse caso, como é que fica o comum das gentes, que só pronuncia /subzídio/?

 

Para botar mais lenha na fogueira, peçamos socorro à nossa professorinha do antigo primário. Em tempo: quanto à “professorinha”, empresto ao diminutivo uma conotação de carinho, embora o termo possa, noutro contexto, imprimir tom pejorativo. Longe disto.

 

Pois bem, ela insistia numa regra de ouro: O s tem o som de /z/ quando está entre vogais. A ser assim, em subsídio não se justifica a pronúncia /subzídio/, afinal o s da segunda sílaba vem depois de consoante. Subsídio se lê como tio, como silêncio. Mesma pronúncia de subsolo, de subsíndico.

 

Vale a pena trocar duas palavrinhas a esse respeito. Principio com o sentido de subsídio, à luz da etimologia. É formado de dois elementos. Inicialmente o prefixo sub, que carrega a acepção de posição inferior ou secundária.

 

A ele se junta o radical da palavra sedes, sentido de assento, cadeira. Associado a sedentário, aquele que trabalha sentado. Em latim temos subsidium. Algo assim: sentado / colocado ao lado.

 

À época, subsídio era sinônimo de reserva, ou melhor, tropas de reserva. Termo da linguagem militar: tropas sempre prontas para apoio. Daí para o sentido de ajuda, de socorro, de auxílio foi um pulo. Os parlamentares não são nada bobos: elevaram de novo seus subsídios. Vencimentos régios... Mais do que ajuda: uma “ajudaça”.

 

Voltemos ao ensinamento de nossa professorinha. Se razão tinha ela, como se explica o caso de obséquio, que se pronuncia /obzéquio/, embora não esteja o s entre vogais? Matreira, complementava: Não há regra sem exceção.

 

O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa – VOLP –, que lista sete palavras derivadas de obséquio, entre elas obsequiar e obsequioso, traz entre parênteses a pronúncia com z. Corresponde, sem tirar nem pôr, ao que ouvimos no dia a dia.

 

Como é “fácil” a vida do professor de Português! Às vezes, cabe-lhe explicar o inexplicável. Ora apelamos para o uso, dizendo ser nosso amigo de longa data. Ora lançamos contra ele uma ladainha de pragas. Nosso inimigo mortal.

 

Se vale como conforto, Napoleão Mendes, em seu Dicionário de questões vernáculas, enfatiza que a palavra obséquio já existia em latim com essa pronúncia. Claro está que não devemos nos basear em obséquio para o som do /c/ de subsídio.

 

Outra exceção existe. Sempre ela a nós atormentar. Trata-se do prefixo trans. Vamos enfrentar o touro: se a palavra a que este prefixo se liga não tiver s inicial, adquire o som de /z/: transamazônica, transeunte, transístor, transoceânico. Por outro lado, terá o som de /c/ quando a palavra originária já trouxer s inicial: transecular, (trans + secular), transexual (trans + sexual).

 

À sentença da qual já não caiba nenhum recurso, diz-se transitada em julgado. Há algum tempo, o governador do Maranhão, Flávio Dino, ao ridiculizar a conduta de um juiz federal flagrado dirigindo um carrão de conhecido empresário, não poupou saliva: Acabei de receber importante ensinamento jurídico. Juiz passeando com carro apreendido. Isso é que é transitar em julgado.

 

Até quando a língua culta – aí incluída a linguagem jurídica – oferecerá resistência à pronúncia /subzídio/, eis uma dúvida a que não temos resposta. E saber que, segundo o professor Cláudio Moreno, é provável que 95% das pessoas prefiram exatamente essa forma.

 

Dia haverá em que, por força da avalanche de falantes, /subzídio/ passará a coexistir com /subcídio/, forma que hoje goza soberanamente do prestígio da Academia Brasileira. Em tempo: o VOLP só registra a estranha e desusada avalancha. É de pasmar!

 

Por enquanto, é de bom-tom continuemos a recorrer à pronúncia preconizada pelo VOLP e pelos dicionaristas, notadamente quando se trata de linguagem mais cuidada. Nessa luta, uma penca de palavras há que são nossas aliadas, atendendo ao mesmo princípio: subsalário, subsecretário, subsistema, subsolo. Igualmente subsunção, termo do mercado jurídico.

 

No entanto, tão avassaladora é a influência do uso, que o Vocabulário da Academia já autoriza dupla pronúncia a três vocábulos que, há bem pouco, só admitiam o registro com /c/. São elas: subsistência, subsistente e subsistir. Hoje, a adequada pronúncia poderá ser, para ficar num caso apenas, tanto /subcistir/ quanto /subzistir/. Ao gosto do freguês.

 

Ficou patente isto: no que respeita ao uso dos falantes, estes não dão a mínima ao que determina a Academia Brasileira. Sem quê nem pra quê, ignoram a determinação do VOLP. Por isso é que se ouve mais /subzídio/ do que /subcídio/. De outra parte, não vale a pena remarmos contra a maré.

 

Embora assim, sob o signo da linguagem correta, fica meu conselho: ignoremos o /subzídio/. Usá-lo é despertar contra nós o descrédito dos que nos rodeiam. Arrumar mais encrenca, pra quê?

 

Basta!

 

Cuiabá, MT, 20-5-2016.
Prof. Germano Aleixo Filho,
Assessor da Presidência do TJMT.