
Poder Judiciário de Mato Grosso
Notícias
04.03.2016 16:52
Direito Sistêmico: além do processo judicialDividido em cinco módulos, o curso, que teve início em fevereiro, vai até o mês de junho, sempre dois dias no mês. Realizado na Escola dos Servidores, a capacitação é destinada a desembargadores, juízes, servidores do Poder Judiciário, advogados, mediadores e demais profissionais interessados no assunto.
Para Sami Storch, que desde 2004 vem estudando sobre o assunto e utiliza a terapia das constelações em suas audiências, esta ciência tem um potencial imenso para a utilização na área jurídica. “Isso porque, na prática, mesmo tendo as leis positivadas como referência, as pessoas nem sempre se guiam por elas em suas relações. Os conflitos entre grupos, pessoas ou internamente em cada indivíduo são provocados em geral por causas mais profundas do que um mero desentendimento pontual, e os autos de um processo judicial dificilmente refletem essa realidade complexa”, explica o magistrado.
Ele ressalta que nestes casos uma solução imposta por uma lei ou por uma sentença judicial pode até trazer para a parte um alívio momentâneo, uma trégua na relação conflituosa, mas apenas isso não é capaz de solucionar a questão e trazer a paz às pessoas.
O magistrado chama a atenção para os vínculos familiares, que são extremamente profundos. Isso na prática significa o quê? Significa que se os pais tiveram dificuldades com os pais deles, aquilo irá refletir em dificuldades com os filhos, netos e bisnetos. “Quando um casal, por exemplo, chega com um conflito na Justiça, pode ser reflexo de algo que ficou em desordem anteriormente, em gerações anteriores. Essas leis sistêmicas permitem que possamos enxergar além daquilo que aparece no processo judicial. Se olharmos só a ponta do iceberg, podemos olhar só o processo, dar uma sentença, ou até promover um acordo, mas isso não vai tratar a base do problema. Por isso, a Justiça está abarrotada de processos e mais processos, recursos e mais recursos, porque as partes não resolveram a origem do conflito, a base do que aparece na ponta do iceberg”.
Sami Storch elogiou a iniciativa do Tribunal de Justiça em promover um curso para tratar sobre este assunto. “Isso é maravilhoso. Vejo como uma iniciativa corajosa e ousada. Este curso é uma formação pioneira entre magistrados e servidores. É muito bom ver este movimento se iniciando dentro da Justiça. Para que isso aconteça é preciso ter alguém à frente que ouse dar um passo adiante. Que esta iniciativa do Tribunal de Justiça de Mato Grosso inspire outros tribunais do país a darem um passo à frente”.
A juíza da Terceira Vara Especializada de Família e Sucessões da Comarca de Várzea Grande, Jaqueline Cherulli, está participando ativamente do curso e vê no direito sistêmico mais uma ferramenta de trabalho, principalmente para ser utilizada nos centros de conciliação. “Tudo o que é novo leva tempo para ser aceito e para ser reconhecido, mas eu acredito muito na eficácia do direito sistêmico, pois ele atua onde há o litígio, ajudando a desfazer o emaranhado da resistência, buscando uma solução profícua que realmente traga paz e pacifique os envolvidos”.
Quem também está participando do curso é o juiz da Primeira Vara Especializada de Violência Doméstica e Familiar contra Mulher de Cuiabá, Jamilson Haddad Campos, que parabenizou o Tribunal de Justiça de Mato Grosso, na pessoa da vice-presidente, desembargadora Clarice Claudino da Silva.
O juiz Sami Storch ressalta que o curso não é para formar consteladores. “Não estamos aqui entregando conteúdo suficiente para que vocês saiam fazendo constelação, pois o período é curto. A constelação é um passo de casa vez. É preciso andar a pé para ver todos os detalhes. O objetivo do curso é fazer que com todos aqui passem a olhar as suas próprias questões de maneira nova, o que já é um grande ganho. Vamos devagar”.
Módulos – Mais três módulos do curso serão ministrados. No terceiro – Atendimento Individual – realizado entre 17 e 18 de março, serão trabalhados os seguintes assuntos: o movimento do amor interrompido, sentimentos primários, vitimização, trabalho com bonecos e trabalho com visualização.
Sistemas Organizacionais é o tema do quarto módulo, que ocorrerá em 12 e 13 de maio. Os temas discutidos serão diferenças entre o sistema familiar e outros sistemas, os tipos de hierarquia dentro de uma organização, o espírito e o corpo, situações ocultas dentro de uma organização, constelação de decisão e falência e repercussões judiciais.
Já o último módulo será realizado de 3 a 4 de junho, com o tema Possibilidades do Direito Sistêmico. Os assuntos trabalhados serão: experiências de uso das ferramentas da constelação, o duplo olhar, constelações a serviço da justiça, infância e juventude, aplicação e acompanhamento de medidas socioeducativas, justiça restaurativa e dosimetria da pena e alternativas.
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Janã Pinheiro/Fotos: Otmar de Oliveira/F5
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