Enquete
Fechar
Enquetes anteriores

Poder Judiciário de Mato Grosso

 
Notícias

14.08.2020 10:35

Justiça Restaurativa – Jecrim de Cuiabá realiza encontro virtual com dependentes químicos
Compartilhe
Tamanho do texto:
Membros da organização Alcoólicos Anônimos (AA) compartilharam suas experiências, dificuldades e vitórias para conseguirem se manter sóbrios durante o período de isolamento social imposto pela pandemia do novo Coronavírus (Covis-19). A troca de informações com os participantes do Grupo de Acompanhamento, Informação e Educação (GAIE) do Núcleo Psicossocial (Nups), ligado ao Juizado Especial Criminal Unificado (Jecrim) de Cuiabá ocorreu no final da tarde de quinta-feira (13), pela plataforma Microsoft Teams.
  
De acordo com o juiz coordenador do Jecrim, Aristeu Dias Batista Vilella, as reuniões do GAIE que ocorriam quinzenalmente no Jecrim tiveram que ser suspensas devido à pandemia. Porém, com a preocupação de retornar as atividades para auxiliar os participantes nesta fase, já que 99% são dependentes químicos e poderiam estar passando por dificuldades para se manterem longe das drogas, os profissionais que atuam no Nups decidiram promover a videoconferência.
 
O tema escolhido para abrir esta nova modalidade de reunião foi “Álcool e outras drogas em tempos de pandemia”. Um dos integrantes do AA, que para manter o anonimato terá seu nome preservado, contou que iniciou a consumir bebida alcoólica para amenizar uma dor e viu aquela fuga tomar conta da sua vida. “Uma sexta-feira saí do trabalho e parei em um bar, bebi o final de semana inteiro até cair na rua. Eu só não fui preso por sorte, mas eu perdi roupa, apanhei, caí e só saí dessa com a ajuda do grupo”, admitiu.
 
Ele afirma que encontrou atividades saudáveis para preencher seu tempo, como aprender xadrez. “Mas daí veio a pandemia e tudo piorou. Em outros tempos ia procurar a bebida, mas hoje eu sei o que preciso para conduzir a minha vida da melhor forma que eu puder. Procuro ser produtivo. Gosto de ler e escrever, venho pro meu cantinho e fico produzindo”, ensina. “Falar pode aliviar dores emocionais. É o que fazemos nesses grupos de apoio como AA. Lá eu falo de mim”
 
O segundo membro do AA relatou que chegou ao grupo há 11 anos, depois de passar pelo Nups. Na época tinha 26 anos. “Ingeri meu primeiro gole de álcool aos 18 anos, sentia um vazio grande no peito e não sabia explicar o que era. Com a bebida eu que era muito introvertido conseguia até dançar. Parecia que tinha encontrado um elixir”, relembra. “Aos 23 anos tive contato com a droga. Eu não sabia que tinha predisposição para o vício. Comecei a beber e a usar droga até perder o controle, parei de cumprir com minhas obrigações. Larguei a faculdade, só chegava atrasado no trabalho, às segundas-feiras nem ia”, cita.
 
“Minha passagem pelo grupo do Nups foi muito importante, lembro até hoje das palavras da assistente social Gilda Rodrigues Arruda. Ela era firme e tinha segurança naquilo que ela acredita. Ela me encaminhou ao AA a mando do juiz responsável pelo Jecrim na época, Mário Kono”, lembra.
 
A assistente social Gilda, citada por um dos membros do AA, até hoje atua no GAIE e participou do encontro on-line. “Toda vez que ouvimos aprendemos um tanto de coisa. Pessoas que passaram por circunstâncias difíceis e parecidas e cada um do jeito encontrou uma maneira de mudar de vida. Viver sobriamente é viver de maneira serena”, disse ao agradecer os depoimentos.
 
O juiz coordenador do Jecrim agradeceu a parceria do AA e a presença dos participantes do GAIE. “Mesmo em distanciamento social, os profissionais do NUPs, psicólogos e assistente sociais estão a postos para ouvi-los e auxiliarem aqueles que estiverem passando por alguma dificuldade. No Jecrim nosso objetivo é conversar com os senhores e com seus familiares para darmos apoio”, disse ao se dirigir aos participantes do grupo.
 
GAIE - O juiz Aristeu Dias Batista Vilella lembra que a participação dos usuários no Grupo de Acompanhamento se dá no contexto da Justiça Restaurativa, atendendo a previsão da Lei de Drogas (lei 11.343/2016), que no art. 28 determina como pena aos usuários a aplicação de medidas educativas.
 
Mais do que aplicar a lei, o GAIE quer estender a mão a essas pessoas que necessitam de ajuda. A iniciativa conta com apoio da Comissão Especial sobre Drogas Ilícitas do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT), coordenada pelo desembargador Marcos Machado.
 
O Nups foi criado em 2002 para fazer um acompanhamento das pessoas que foram presas usando drogas. As pessoas que fazem uso intenso são encaminhadas para tratamento de saúde, já os que estão no uso mais leve recebem orientação no núcleo.
 
Alcione dos Anjos
Coordenadoria de Comunicação do TJMT
imprensa@tjmt.jus.br