Tributação do cooperativismo e o futuro do agronegócio são debatidos em Seminário Internacional
O ministro Luiz Alberto Gurgel de
Faria, do Superior Tribunal de Justiça (STF), detalhou a complexidade e a
importância das cooperativas no cenário rural brasileiro, focando especialmente
no aspecto tributário, durante palestra realizada na sexta-feira (23 de maio),
no Seminário Internacional Multidisciplinar do Agronegócio. O evento foi
promovido pelo Tribunal de Justiça de
Mato Grosso (TJMT), por meio da Escola Superior da Magistratura de Mato Grosso
(Esmagis-MT), em parceria com a Federação da Agricultura e Pecuária de Mato
Grosso (Famato) e Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Mato Grosso (Senar-MT).
A palestra do ministro Gurgel de
Faria, fez parte do painel presidido pela desembargadora do TJMT, Serly
Marcondes, e teve como título "Cooperativismo no agronegócio: aspectos
jurídicos e impactos econômicos". Participaram como debatedores do painel,
o advogado e professor doutor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT),
juiz-membro substituto do Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso (TRE-MT),
Welder Queiroz, e a produtora rural e presidente do Sindicato Rural de Jaciara,
Juliana Bortolini.
Durante sua fala, o ministro
explicou como foi o tratamento do cooperativismo na Constituição de 1988, até
chegar ao aspecto tributário atual.
O ponto principal de sua
abordagem foi a previsão constitucional de um "tratamento adequado no
âmbito tributário". Gurgel de Faria destacou a recente Lei Complementar n°
214/2025, que regulamenta os novos tributos da reforma tributária – IBS
(Imposto sobre Bens e Serviços) e CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços). De
acordo com o ministro, para os atos cooperados, a nova legislação prevê uma
"alíquota zero para o IBS e a CBS", conferindo um tratamento
específico e benéfico.
O professor Welder Queiroz levou
à discussão um elemento complementar aos benefícios tributários das
cooperativas. A indicação geográfica como ferramenta de valorização do produto.
"A indicação geográfica, vem e se soma como elemento útil para as
cooperativas. Poder valorizar os produtos decorrentes de uma cooperativa",
afirmou Queiroz.
Ele citou exemplos como o camarão
potiguar e o queijo da Serra da Canastra, em Minas Gerais, que se valorizaram
por meio dessa estratégia. O professor propôs que Mato Grosso, conhecido pela
soja e milho, explore o potencial de produtos como o "gergelim do
Araguaia" ou o "cacau mato-grossense" do norte do estado,
incentivando os produtores a se unirem "para além dos benefícios da
cooperativa e poder ter uma forma de valorizar o seu produto".
A voz do campo
A produtora rural Juliana
Bortolini trouxe uma perspectiva vital do dia a dia no campo, ressaltando a
necessidade de maior participação e conhecimento técnico por parte dos
cooperados. "Como cooperada, eu vejo que nós, cooperados, estamos deixando
a desejar. Por quê? Nós não estamos tendo uma presença ativa dentro das
cooperativas", afirmou, destacando a falta de engajamento em assembleias e
a importância de estar bem assessorado para tomar decisões.
Juliana ilustrou sua fala com um
exemplo familiar, onde a falta de conhecimento técnico sobre uma máquina de
colheita adquirida pela cooperativa gerou problemas na fazenda de seu marido.
"Não basta só votar", enfatizou, sugerindo que, em temas como a
reforma tributária, os cooperados devem "consultar o seu contador"
antes de decidir.
Em sua contribuição final,
Juliana Bortolini reforçou o potencial do cooperativismo como uma
"potência", lembrando que a ONU declarou 2025 como o Ano
Internacional do Cooperativismo, com o objetivo de promover a paz e, no
contexto do agronegócio, garantir a segurança alimentar. Ela encerrou sua fala
reiterando a importância da educação: "Nós precisamos nos educar" no
cooperativismo.
O ministro Gurgel de Faria, além
de magistrado, é professor, e destacou a importância de não se "ficar
encastelado nos gabinetes". Para ele, é fundamental "participar de
eventos como esse para sentir a realidade de cada local, sentir a realidade de
cada setor". Ele mencionou como a escuta de um depoimento da produtora
rural o fez "sair das páginas dos livros para realidade".
"Eventos como esse fazem com
que nós do Judiciário e nós também professores, possamos efetivamente saber o
que está acontecendo em cada setor", afirmou Gurgel de Faria, ressaltando
a troca de informações e a coleta de lições que podem ser aplicadas, inclusive,
em sala de aula, configurando uma "troca de boas práticas".
Importância da interação
Judiciário-Agronegócio
Tanto o ministro Gurgel de Faria
quanto a desembargadora Serly Marcondes reforçaram a relevância de eventos que
unem o Judiciário e o agronegócio, especialmente em Mato Grosso, um estado de
grande força produtiva.
A desembargadora Serly Marcondes,
que presidiu o painel, não só gerenciou as ricas contribuições do professor
Welder Queiroz (UFMT), que trouxe a perspectiva acadêmica, e da produtora rural
Juliana Bortolini, com sua visão prática do campo, como também salientou a
necessidade de diálogo.
Prestigiaram a palestra do
ministro Luiz Alberto Gurgel de Faria, os desembargadores Mário Roberto Kono de
Oliveira, Serly Marcondes, Márcio Vidal e Luiz Ferreira da Silva, além dos
juízes Agamenon Moreno de Alcântara Júnior, Cristiane Padim da Silva e
Jaqueline Cherulli.
O seminário, parceria entre o Poder Judiciário de Mato Grosso, por meio da Escola Superior da Magistratura de Mato Grosso (Esmagis-MT), Famato e Senar, com apoio da Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso (Fiemt), Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Mato Grosso (Fecomércio-MT), a Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Mato Grosso (OAB-MT) e a Escola Superior de Advocacia de Mato Grosso (ESA-MT), reuniu um público diversificado de desembargadores, juízes, advogados, servidores do Judiciário estadual, representantes do Sistema de Justiça, produtores rurais e estudantes, reforçando o compromisso com a segurança jurídica, economia e sustentabilidade ambiental no agronegócio brasileiro.
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Marcia Marafon / Foto: Alair Ribeiro
Coordenadoria de Comunicação do TJMT
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