Registre-se: mutirão de acesso à documentação leva cidadania à Aldeia Bacaval
"Hoje eu trouxe meu menino de 12 anos para tirar a certidão de nascimento. Diferente da cidade, que a gente enfrenta filas, aqui eles estão só atendendo a gente", celebrou a moradora da Aldeia Quatro Cachoeiras, Gracilene Kanazokero. O atendimento foi um dos primeiros realizados na 3ª edição da Semana Nacional do Registro Civil – Registre-se!.
A campanha nacional, que
ocorre de 12 a 16 de maio em todo o Brasil, e, em Mato Grosso, em quatro
municípios – Cuiabá, Várzea Grande, Rondonópolis e Campo Novo do Parecis
(Aldeia Bacaval) – pretende garantir o acesso gratuito à documentação básica
para pessoas em situação de rua, em vulnerabilidade social, pessoas trans,
egressos do sistema prisional, imigrantes e população indígena.
A abertura oficial foi
realizada nesta segunda-feira (12/05), na Escola Municipal Indígena da Aldeia
Bacaval, no município de Campo Novo do Parecis, e contou com a presença do
corregedor-geral da Justiça de Mato Grosso, desembargador José Luiz Leite
Lindote; da juíza auxiliar da CGJ-MT, Myrian Pavan Schenkel; do prefeito
Edilson Piaia; da cacique Miriam Kazaizokairo; e de demais parceiros da ação.
Para dar início à cerimônia
e desejar boas-vindas e uma boa semana de trabalhos, representantes da Aldeia
apresentaram uma oferenda com produtos feitos na comunidade — peixe, biju e a
bebida tradicional conhecida como Oloniti — e realizaram uma oração no idioma
tradicional Pareci. Em seguida, alunos das escolas das aldeias Bacaval e Quatro
Cachoeiras apresentaram a dança tradicional Zolane.
Em sua fala na abertura, o
corregedor-geral da Justiça, desembargador José Luiz Leite Lindote, destacou
que levar a ação até a Aldeia Bacaval é uma forma concreta de enfrentar o
sub-registro e ampliar o alcance da Justiça. "Reconhecemos, com respeito,
a identidade do povo Haliti-Paresi. E fazemos isso não com discursos, mas com
ações", afirmou.
Ele pontuou ainda que a
iniciativa é fruto de um trabalho coletivo. "Agradeço a todos os parceiros
e instituições envolvidos nesta mobilização. É com união e organização que se
alcança resultado. Registro não é favor. É direito. E direito se garante com
presença, estrutura e eficiência", destacou.
A juíza auxiliar Myrian
Pavan Schenkel ressaltou a importância da iniciativa voltada aos povos
originários. "Vindo in loco, a gente vê a grandiosidade do evento e como é
necessário. Muitas dessas pessoas aqui na aldeia possuem o registro, mas não
têm todos os documentos necessários para os atos da vida civil. A identificação
civil é o primeiro passo para o acesso a diversos benefícios sociais. Nesse
contexto, o Registre-se é uma injeção de cidadania", avaliou.
Para o juiz diretor do Fórum
de Campo Novo do Parecis, Bruno César Singulani França, a Semana é de extrema
importância para o município, devido à grande população indígena na região.
"Proporcionar a eles uma certidão de nascimento, CPF, título de eleitor é
oferecer uma série de serviços que antes eles não tinham acesso. Assim, deixam
de ser pessoas invisíveis juridicamente e passam a gozar de toda a proteção
legal", afirmou.
A cacique Miriam
Kazaizokairo destacou a importância do projeto para os povos indígenas,
promovendo o acesso à documentação, que é uma forma de assegurar direitos.
"Agradeço a todos por trazerem essa ação à nossa aldeia. Estamos muito
felizes em recebê-los e por nos ajudarem a tirar todos os documentos e
regularizar a situação de todos", disse.
O prefeito de Campo Novo do
Parecis, Edilson Piaia, também celebrou a realização do evento nacional no
município. "A Prefeitura está dando apoio na parte de infraestrutura,
transporte e serviços para que esse evento seja um sucesso", pontuou.
Para o chefe da Divisão e
coordenador substituto da Funai em Cuiabá, Benedito Leocádio de Campos Filho, a
Semana é uma forma de os serviços que promovem a cidadania chegarem a quem realmente
precisa. "A demanda é grande, e um evento como esse facilita demais a vida
deles, já que não precisam se deslocar até a Funai ou ao cartório. Facilita o
acesso à documentação", afirmou.
Benedito Leocádio ressaltou
ainda a expectativa de continuidade da ação. "O ano passado já foi um
sucesso, e estamos felizes que ela está se repetindo. Esperamos mais edições
para atingir ainda mais povos indígenas".
A expectativa é que
aproximadamente 600 indígenas sejam atendidos durante o mutirão na Aldeia
Bacaval, com serviços que incluem emissão de certidões de nascimento e
casamento, regularização do CPF, alistamento eleitoral, emissão de documentos
de identidade, além de orientações jurídicas e assistenciais, em uma atuação
conjunta do Poder Judiciário com órgãos como Funai, Receita Federal, Tribunal
Regional Eleitoral (TRE), Defensorias Públicas e secretarias de assistência
social.
Participaram ainda da
cerimônia de abertura a juíza Cláudia Anffe Nunes da Cunha, a defensora pública
de Campo Novo do Parecis, Camila Santos da Silva, a presidente da Subseção da
OAB-MT, Cristiane Biava, e o Frei Elisei Aiolfi.
Atendimentos – Além da
Aldeia Bacaval, os atendimentos começaram nesta segunda (12) e seguem até sexta
(16), das 8h às 17h, em Cuiabá, na Penitenciária Central do Estado (PCE) e na
Secretaria Municipal de Cultura. Em Várzea Grande, a Semana também já iniciou
os trabalhos e será realizada de 12 a 14 de maio, das 8h às 16h, no Anexo II –
Centro Educacional. Em Rondonópolis, a ação ocorrerá no dia 15 de maio, das 8h
às 16h, no Ganha Tempo do município, em conjunto com o evento PopRuaJud do
Poder Judiciário.
Aldeia Bacaval – A Aldeia
Bacaval é uma das 100 aldeias da região, situada na Terra Indígena Pareci, no
município de Campo Novo do Parecis. Criada na década de 1970, atualmente 136
pessoas residem no local, que se mantém com a piscicultura e a agricultura
mecanizada.
A população indígena da
região é majoritariamente formada pelos povos Pareci e Nambikwara, ambos com
presença histórica no Cerrado mato-grossense e na transição para a floresta
amazônica. Os Pareci (ou Haliti-Paresi), cuja língua pertence à família Aruak,
ocupam atualmente diversas aldeias distribuídas nos municípios de Campo Novo do
Parecis, Sapezal e Comodoro. Já os Nambikwara, falantes de língua da família
Nambikwara, concentram-se nas Terras Indígenas Nambikwara e Sararé, em áreas
que abrangem parte dos municípios de Comodoro, Pontes e Lacerda e Vila Bela da
Santíssima Trindade, com registros históricos de trânsito na região de Campo
Novo.
Parcerias – Todos os
serviços ofertados estão sendo disponibilizados por meio de parcerias com o
Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso (TRE-MT), Receita Federal do Brasil
(RFB), Perícia Oficial e Identificação Técnica do Estado de Mato Grosso
(Politec), Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso (DPE-MT), Defensoria
Pública da União (DPU), Secretaria de Estado de Assistência Social e Cidadania
(SETASC-MT), Fundação Nova Chance (FUNAC), Secretaria de Segurança Pública do
Estado de Mato Grosso (SESP-MT), Associação dos Registradores de Pessoas
Naturais do Estado de Mato Grosso (ARPEN-MT), Associação dos Notários e
Registradores do Estado de Mato Grosso (ANOREG-MT), Prefeitura de Cuiabá,
Prefeitura de Várzea Grande, Prefeitura de Campo Novo do Parecis, Prefeitura de
Rondonópolis; os cartórios de Cuiabá: 3º Ofício, Distrito da Guia, Coxipó do
Ouro e Coxipó da Ponte; o Cartório de Registro Civil de Várzea Grande; o
Cartório de Campo Novo do Parecis; e o Cartório de Rondonópolis.
Registre-se em Mato Grosso –
A campanha “Registre-se!” faz parte do Programa de Enfrentamento ao
Sub-registro Civil e de Ampliação ao Acesso à Documentação Básica por Pessoas
Vulneráveis, promovido pela Corregedoria do Conselho Nacional de Justiça (CNJ)
e pelos Tribunais de Justiça.
Nas duas edições anteriores realizadas em Mato Grosso, foram promovidos mais de 1.400 atendimentos voltados à população em situação de rua, ribeirinhos, pessoas privadas de liberdade, migrantes e indígenas, além de demandas espontâneas. As ações ocorreram em Cuiabá e na Aldeia Pakuera, da etnia Bakairi, no município de Paranatinga, a 400 quilômetros da capital. Entre os serviços prestados, 755 foram emissões de certidões de registro civil e 404 solicitações de Carteira de Identidade Nacional.
Larissa Klein / Foto: Alair Ribeiro
Assessoria de Comunicação da CGJ-TJMT
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