Curso sobre julgamento com foco em gênero propõe o respeito à dignidade das mulheres nos processos
Foi com um convite à reflexão sobre as estruturas simbólicas que
impactam a sociedade em seus diversos aspectos, incluindo o acesso à Justiça, que
a juíza Amini Haddad e o juiz Jamilson Haddad Campos iniciaram o curso ‘Protocolo
para julgamento e instrução com perspectiva de gênero e suas
interseccionalidades raça e etnia’, oferecido pela Escola Superior da
Magistratura de Mato Grosso (Esmagis-MT) a magistrados e servidores, entre os
dias 30 de junho e 02 de julho, em Cuiabá.
“Nós temos as estruturas sociais que são impactadas por ordem
culturais e pensarmos essas realidades é fundamental. Falamos na facilidade de
acesso à justiça, então, é importante que o Judiciário cumpra a sua missão de
atender dentro da ordem do Direito, criando aspectos de acesso que não sejam
acessos de vulnerabilidade das vítimas, das pessoas que são ouvidas. As oitivas
precisam ser diante de uma dinâmica de acolhimento, de percepção desse humano.
Então é importante que o Judiciário cumpra essa missão, que é uma missão social
de realizar a justiça”, defende a juíza Amini Haddad.
A magistrada explica que o protocolo existe para garantir que
haja respeito aos direitos humanos das vítimas no curso dos processos, seja na
esfera criminal, cível ou administrativa. “Isso é o devido processo
constitucionalmente assegurado, onde não podem ocorrer violações. O magistrado
não pode fazer uma pergunta que viole e vulnere ainda mais a vítima. O caso,
por exemplo, Mariana Ferrer, foi um caso emblemático que resultou até mesmo na
criação de uma lei. A lei 14.245 é exatamente essa dinâmica de
responsabilização, onde o Judiciário precisa se orientar para preservar
direitos”, diz.
Conforme
o juiz Jamilson Haddad Campos, o protocolo para julgamento
e instrução com perspectiva de gênero traz interpretações com base em
convenções internacionais de Direitos Humanos e a Constituição Federal de 1988,
no que tange especialmente à dignidade da pessoa humana, levando em conta ainda
o histórico de violência contra as mulheres.
“Por isso essa qualificação que o Tribunal de Justiça do
Estado do Mato Grosso está fazendo em cumprimento à recomendação do Conselho
Nacional de Justiça, de modo a qualificar os magistrados nas diversas áreas do
saber jurídico, em qualquer que seja o grau de competência, porque a Constituição
deve ser vivenciada tanto no âmbito administrativo e também no ambiente
judicial, na prestação jurisdicional, interpretando as vulnerabilidades e
praticando essa reestruturação de compreensão do ordenamento jurídico através
desses protocolos, que visam a igualdade material, visam combater
desigualdades ou vitimizações, inclusive através de decisões judiciais”,
afirma.
Participante
do curso promovido pela Esmagis-MT, a juíza Tatyana Lopes de Araújo Borges,
titular da 2ª Vara Especializada de Violência Doméstica e Familiar Contra a
Mulher de Cuiabá, ressalta a importância do aprendizado para a plena garantia
do direito humano à dignidade das mulheres, no curso do processo.
“Nas
audiências de instruções, nós percebemos o quão necessária é a aplicação desse
protocolo de perspectiva de gênero. A todo momento, nós temos que alinhar com
aqueles que estão participando para que a mulher não sofra preconceito,
principalmente no caso, por exemplo, de crimes sexuais. Quando as pessoas já
vão para a audiência com estereótipos. Então a gente precisa tanto desconstruir
esses estereótipos que existem em relação às mulheres, como também muitas vezes
a gente tem que impedir algumas perguntas que vão causar essa revitimização”,
relata.
O
curso - Credenciado pela Escola
Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados ‘Ministro Sálvio de
Figueiredo Teixeira’ – Enfam, o curso coloca em prática a Resolução nº
492/2023, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que estabelece as diretrizes
do protocolo e institui a obrigatoriedade de capacitação de magistrados e
magistradas, relacionada a direitos humanos, gênero, raça e etnia.
A
abertura do curso contou com a participação do juiz colaborador da Esmagis-MT
no eixo Deontologia, Gonçalo Antunes de Barros Neto, que destacou o alto grau
de preparo técnico e científico dos magistrados professores, além da
sensibilidade de ambos na pauta de gênero.
Formadores - A juíza Amini Haddad Campos é pós-doutora em Direitos Sociais e
Ações Coletivas pela Universidad de Salamanca (Espanha). Atualmente está em 2º
pós-doutoramento pela Universidade de Brasília na temática de Acesso à Justiça
e Inteligência Artificial. É doutora em Processo Civil pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo e doutora em Direitos Humanos pela
Universidad Católica de Santa Fe. Tem mestrado em Direito Constitucional pela
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
Jamilson Haddad Campos é mestre em Direito pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), e representante da Região Centro-Oeste na Secretaria da Mulher da AMB. Possui curso de Formador de Formadores - FOFO pela Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento da Magistratura. Recebeu certificado de reconhecimento “Selo Diamante”, do Conselho Nacional de Justiça, pela atuação na 1ª Vara de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher de Cuiabá.
Celly Silva / Foto: Alair Ribeiro
Coordenadoria de Comunicação do TJMT
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