“Autismo não limita”: mãe e filho mostram como inclusão transforma vidas
No Fórum de Cáceres, mãe e filho contaram
suas histórias que mostram uma mesma certeza: inclusão não é favor, é caminho
para autonomia e cidadania. Autista, Nicolas Brito Sales narrou, com humor e
franqueza, a própria trajetória. Em seguida, sua mãe, Anita Brito mostrou como
conhecimento e políticas públicas são essenciais para famílias e instituições.
Os dois compartilharam suas histórias de vida nesta sexta-feira (26 de
setembro), durante a 4ª edição do projeto “TJMT Inclusivo – Capacitação e
Conscientização em Autismo”, promovido pela Comissão de Acessibilidade e
Inclusão do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) em parceria com a Escola Superior da Magistratura de Mato Grosso (Esmagis-MT) e Esccola dos Servidores do Judiciário.
Nicolas apresentou ao público a
palestra “Lugar de autista é onde ele quiser estar”, e contou sobre o
diagnóstico oficial, que veio aos 5 anos e meio, quando apresentava regressão
de fala, ecolalias (repetição não espontânea de palavras ou frases ouvidas),
dificuldade de interação social e outras características que alguns
especialistas afirmavam que poderiam ser permanentes. Pouco mais de 20 anos
depois, ele conta no palco, rindo de si mesmo, das respostas “fora da caixa” na
escola, da rigidez comportamental e da ansiedade social que o fazia evitar
aglomerações.
“Valorizem as pessoas pelo todo e
deixem os rótulos de lado. Eu gosto de ser autista, de verdade”, contou ele, que
hoje circula entre arte e cuidado, atuando como palestrante, fotógrafo,
escritor de literatura infantojuvenil e assistente terapêutico. Suas séries de
imagens de “redemoinhos” abstratos a paisagens urbanas estampam canecas,
lenços, metacrilatos, e já foi premiado internacionalmente como fotógrafo. “A
arte organiza o mundo de dentro. Quando crio, eu me sinto livre”, completou.
Já sua mãe Anita começou a
carreira como professora de Língua Inglesa e, com o diagnóstico do filho, migrou
de área para entender o cérebro. Fez doutorado e pós-doutorado na Universidade
de São Paulo (USP), especializou-se em neurociências e hoje dirige tecnicamente
um centro de intervenção que adota um modelo brasileiro de inclusão e
autonomia, pensado para a realidade do país. Ela apresentou o tema “Inclusão
social e neurodiversidade” aos participantes do evento.
“O difícil não é ser autista;
difícil é quando a sociedade cria impedimentos. A combinação entre diagnóstico
correto, suporte adequado e escola preparada faz a diferença. Foi assim que
Nicolas, não oralizado quando entrou na educação regular, saiu orador da turma
no ensino médio. Nossa história ilustra um princípio essencial: cada cérebro
aprende por caminhos próprios e políticas públicas de inclusão precisam
reconhecer e trabalhar por essa diversidade. Não existe ‘cara de autista’. Existem
pessoas e cada uma aprende por caminhos próprios”, afirmou.
Nos relatos de mãe e filho, a
escola aparece como ponto de virada. Professores que conectaram conteúdos pedagógicos
a hiperfocos do Nicolas (como personagens de videogames e desenhos animados)
criaram pontes de aprendizagem que o ajudaram a avançar sem adaptações
permanentes. Na vida adulta, essa lógica virou autonomia e hoje ele cozinha,
organiza a rotina, fotografa, expõe e comercializa obras.
“A soma de diagnóstico correto,
suporte adequado contínuo e escola preparada mudam destinos. Não por milagre,
mas por método e por responsabilidade compartilhada entre família,
profissionais e poder público. Educação inclusiva, junto com as terapias
ocupacional, fonoaudiologia e psicologia, devem unir forças. Adaptações
curriculares, linguagem acessível, recursos visuais e planejamento
individualizado não são ‘favores’, mas condições para que o talento floresça”,
afirmou Anita.
A estudante de fonoaudiologia
Rosilda Jorrupi, mãe de uma menina autista de seis anos, resumiu o impacto da
programação em Cáceres e disse que ver um autista no palco, narrando avanços,
limitações e conquistas, educa e inspira. “Tudo contribuiu para o nosso
conhecimento. Os palestrantes tinham propriedade e foi um evento muito
gratificante para a sociedade cacerense, especialmente para o público atípico”
falou.
“Mais que um evento, a edição em
Cáceres deu rosto e voz às pautas da neurodiversidade, mostrou que autismo não
é sinônimo de incapacidade e que porta aberta, linguagem acessível e empatia
constroem cidadania, tanto no Judiciário, na escola, no trabalho e na vida”,
destacou a desembargadora Nilza Maria Pôssas de Carvalho, vice-presidente do
TJMT e presidente da Comissão de Acessibilidade e Inclusão.
Justiça Inclusiva
Com carga horária de 24 horas e
transmissão ao vivo pelo Youtube do TJMT, o projeto “TJMT Inclusivo –
Capacitação e Conscientização em Autismo” reforça o compromisso do Poder
Judiciário de Mato Grosso em alinhar-se às recomendações do Conselho Nacional
de Justiça (CNJ), que incentiva os tribunais a promoverem políticas de
acessibilidade e inclusão.
A edição em Cáceres soma-se a
outras já realizadas em Sinop, Sorriso e Cuiabá, demonstrando o esforço do
Tribunal em percorrer todo o estado, levando informação e capacitação. Até o
fim do ano, outras comarcas-polo receberão o projeto.
Em sua palestra, Anita Brito abordou
ainda aspectos da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei
13.146/2015), que assegura às pessoas com deficiência — entre elas, as que
estão no espectro autista — o direito à educação inclusiva, acessibilidade,
atendimento prioritário no sistema de Justiça, acesso ao mercado de trabalho e
participação plena na vida social e cultural. A lei reconhece que a deficiência
não está na pessoa, mas nas barreiras que a sociedade impõe, e por isso
determina que órgãos públicos e privados adotem medidas efetivas para eliminar
discriminações e promover autonomia.
De acordo com o CNJ, os tribunais
brasileiros devem implementar políticas de acessibilidade e inclusão, de modo a
garantir um atendimento mais humano, eficaz e adequado às pessoas com
deficiência. Isso inclui a capacitação de magistrados(as) e servidores(as), a
adaptação de processos e estruturas físicas e tecnológicas, bem como a promoção
de eventos que ampliem a conscientização da sociedade sobre o tema.
Todas as palestras do evento
estão disponíveis no YouTube, assista aqui.
Leia também:
TJMT Inclusivo: capacitação em Autismo reúne especialistas e sociedade em Cáceres
Ana Assumpção / Foto: Josi Dias
Coordenadoria de Comunicação do TJMT
imprensa@tjmt.jus.br
04/11/2025 16:03
Centro Judiciário de Cáceres e universidades locais participam da Semana da Conciliação
10/11/2025 14:50
Poder Judiciário lança Clube do Livro para remição de pena em unidades prisionais de Cáceres
05/03/2025 16:14
Poder Judiciário reforça parceria para promover ações de inclusão sobre autismo











