Enquete
Fechar
Enquetes anteriores

Poder Judiciário de Mato Grosso

 
Notícias

01.03.2019 10:12

Surdos que trabalham no TJMT são exemplos de superação
Compartilhe
Tamanho do texto:
“Frutos do novo tempo”, esta frase traduz o resultado do projeto de inclusão social de pessoas com deficiência auditiva desenvolvido pelo Tribunal de Justiça de Mato Grosso. “No início, ficamos surpresos com a chegada do grupo de funcionários, mas, logo, nos adaptamos e o que poderia ser dificuldade transformou-se em privilégio”, relata a chefe da Divisão de Feitos Cíveis e Criminais do Departamento Judiciário Auxiliar (Dejaux), Janaína dos Santos Taques.
 
Ela fala que a integração com os 26 surdos possibilitou um processo de humanidade aos servidores ouvintes que atuam no Dejaux. “Começaram aqui há um ano, e, desde então, fazem parte da equipe”, diz Janaína Taques, acrescentando que a comunicação tem fluido com naturalidade. “Muitos servidores daqui acabam aprendendo a falar, pelo menos um pouquinho, em Libras (Língua Brasileira de Sinais). É gratificante, é muito bom vivenciar essa troca, esse aprendizado”, expõe Janaína.
 
Entre as demandas diárias do trabalho de digitalização e validação de processos, tanto os oriundos do Primeiro Grau quanto os que são preparados para serem enviados aos tribunais superiores, os surdos compartilham as histórias de vida. Além do Dejaux, 10 surdos trabalham no Setor de Sobrestados da Secretaria Auxiliar da Vice-Presidência do TJ. Com isso, os 36 são divididos em quatro equipes, sendo duas a cada turno de trabalho, das 7h às 13h e das 13h às 19h, de segunda a sexta-feira.
 
Esses profissionais contam as trajetórias individuais de superação: “O convívio deles aqui no TJ com os servidores é muito importante, porque, geralmente, no dia a dia, acabam se relacionando entre eles mesmos”, esclarece a intérprete de Libras, Angélica Borges, assinalando que em espaços públicos e até no convívio familiar enfrentam dificuldades diante dos obstáculos da comunicação.
 
Um dos exemplos que pode ser considerado sucesso e determinação é a história de Esmael Carlos da Silva. Diferente da maioria dos colegas de trabalho, e de convívio social, que estão experimentando o primeiro emprego no TJ, ele já trabalhou em três empresas. E, apesar de não ter interagido com os outros funcionários, nem por gestos ou apontamentos, decidiu vencer os contratempos impostos pelas chefias dessas empresas.
 
Casado com uma surda e pai de um filho ouvinte, de um ano e seis meses, Esmael revela que quando foi chamado para trabalhar no TJ, com carteira assinada como auxiliar administrativo, ficou com medo. Agora, passado um ano do início desse desafio, se sente bem e igual aos colegas servidores. No grupo de surdos, até mesmo pela idade, com 36 anos, exerce certa liderança.
 
Angélica Borges, intérprete de Líbras de uma equipe, no Dejaux, estuda Letras/Libras, na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), atesta que os surdos, a exemplo de Esmael, independente das dificuldades e do preconceito que enfrentam, vêm conquistando espaços, especialmente depois que começaram a experimentar o mercado de trabalho.
 
A psicóloga Amanda Roldão, coordenadora da Unilehu, empresa responsável pela contratação dos surdos e intérpretes no TJ, conta que, de forma geral, as pessoas com deficiência auditiva têm problemas com a Língua Portuguesa justamente porque não foram alfabetizados. Mas alguns, mesmo assim, começam a fazer uma caminhada de superação. “Isso é gratificante, até porque não são coitadinhos e precisam ampliar a visão de mundo realizar conquistas”, assegura a psicóloga.
 
Amanda Roldão acrescenta que as limitações, como a de não saber utilizar corretamente a Língua Portuguesa, não impedem em nada a capacidade de aprendizado de cada um. “Eles aprendem por meio da Libras”, acentua a psicóloga, enfatizando que a percepção dos surdos é tamanha que rejeitam, inclusive, celebrar a data de 23 de fevereiro como o Dia Nacional do Surdo-Mudo. “Eles não são mudos, porque falam com sinais entre eles e outras pessoas, na mesma condição de deficiência ou ouvintes”, reforça. A comunidade internacional comemora o dia do surdo no dia 26 de setembro.
 
 
Álvaro Marinho/Fotos: Adilson Cunha
Coordenadoria de Comunicação do TJMT
imprensa@tjmt.jus.br
(65) 3617-3393/3394/3409